Águas do encantado ou mundo azul de brumas pantaneiras. Universo paralelo de areias pardas e pássaros, manguezais floridos perfumando o ar seco. A paisagem se abre num horizonte pálido de cores. A seca imprime um tom de rosa e cinza ao céu que se une à linha das águas do Chacororé. Estou diante de um universo mítico e surreal.

Foto: Anna Marimon
Foto: Anna Marimon

A baía guarda mistério em concha.  Às margens do mundo pantaneiro, entendi a poesia de Manoel de Barros. “Caminha sobre as conchas de um mar extinto, caminha sobre as conchas dos caracóis da terra” e a voz pequena e azul sussurrando conversamentos de gaivotas. As águas antigas abrigam jacarés e garças. Um casal de tuiuiús desfila elegante na orla da praia. Vejo azul, amarelo e cinza na luz da tarde quente. Como é quente esse pântano dos trópicos!

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Foto: Anna Marimon

A tarde cai nas águas calmas. A noite vem carregada de estrelas. Pode-se ver a nebulosa, a plêiade da via láctea, lembro do poeta que bebia o leite das estrelas, Antônio Sodré. Queria mamar o leite da ursa maior.  O céu noturno traz consigo lembranças  poéticas, “e os astros enormes como frutos, apontaram durante a noite o nosso caminho.”

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Foto: Anna Marimon

Penso que as estrelas sempre nos guiaram de alguma forma. Olho aquele céu e vejo um sentido maior em tudo. Ouço ao longe o som de um mergulho, um jacaré talvez, em busca da caça.

Foto: Anna Marimon
Foto: Anna Marimon

Naquele mundo paralelo chego a esquecer todo o resto da minha realidade urbana, estou diante do fantasma do mar de Xaraiés, que banhou essas terras em outro tempo. Estou num espaço mítico cujo mistério só a poesia é capaz de revelar. E fico ali pensando em como uma aranha consegue esticar sua teia no horizonte e me perguntando porque o casal de tuiuiú faz seu ninho numa arvore seca.

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