Artistas, produtores culturais, jornalistas, estudantes de Cuiabá se reuniram para debater a atual situação do país diante de um governo que a população não legitima, que contracena em um espetáculo orquestrado pelo Congresso Nacional para dar vazão aos interesses espúrios que permeiam os acordos políticos. Esta imagem se torna mais nítida e cristalina diante dos anunciados ministros que não representam todos os Brasis: são todos homens, brancos, acima dos 40 anos, e com vasto currículo político. E do corte de importantes Ministérios como o da Cultura, do Direitos Humanos, da Igualdade Racial e das Mulheres.
Cerca de 100 pessoas estiveram presentes em uma reunião na noite desta segunda-feira, 16 de maio, na Casa Cuiabana, para debater ações que farão frente ao golpe. Entre elas, uma intervenção artística na Praça Alencastro, com concentração às 15h nesta terça-feira (17), data escolhida para a Mobilização Nacional. São esperados músicos, atores, performers, poetas, todos os manifestantes possíveis, de todas as cores e credos, que unidos reivindicam a retomada de suas políticas públicas junto às vozes das ruas.
Da Praça Alencastro, os artistas farão uma caminhada às 16h, até o Instituto de Patrimônio Histórico (Iphan), que até então era ligado ao MinC. A situação é tão complexa, que secretários de cultura de todo o país, tanto da esfera estadual quanto municipal, estão perdidos, confusos, com os próximos passos deste desgoverno. E preocupados. Muitos estão com as amarras invisíveis dos acordos políticos que não são proferidos em voz alta. Muitos não podem se manifestar publicamente quanto à relação política, à extinção do MinC, à instabilidade política, jurídica e econômica ao qual o Brasil afunda cada dia mais.
Além de não reconhecer o governo, os segmentos culturais lançam a campanha #OMinCÉNosso. As políticas públicas conquistadas ao longo de toda a história do Ministério da Cultura, que foi criado com a redemocratização do país, em nossa tão jovem e combalida democracia, são a força que movem estas pessoas.
Os relatos contados de todas as esferas, com a presença dos movimentos de teatro, dança, estudantil, indígena, vão na mesma direção: estas políticas públicas implementadas com muita luta são para as pessoas que tem menos acesso, são para os municípios mais distantes das grandes cidades, são para pessoas invisíveis que precisam sobreviver criativamente em um sistema injusto.
A cultura não será tirada do povo, não sem que este mesmo povo, resista bravamente. A democracia não será usurpada pelos interesses obscuros, acertados na sede das indústrias na Avenida Paulista. Não sem antes que o povo resista, bravamente. Criativamente.
As ruas serão ocupadas. A arte resiste. A cultura permanece, se transmuta para sobreviver, e nestes tempos incertos, o fará como sempre fez. Os artistas demonstraram isso neste 16 de maio. Debatem, dialogam, trocam ideias.
O sistema atual está viciado, é uma máquina falida que funciona apenas com as cifras milionárias $$. Já não representa a população há muito tempo. O Congresso Nacional é reflexo deste atraso, políticas arcaicas, coronelismo, falta de representatividade dos movimentos LGBT, indígena, negro. Falta o verdadeiro Brasil. Este atraso custa muito caro.
E o preço sempre foi difícil de pagar. Mesmo com os avanços conquistados com estas políticas públicas, muito deixou de ser feito, como a verdadeira reforma política, previdenciária, agrária, legalização do aborto, das drogas. Questões polêmicas, tabus, que não foram abordadas pelos últimos governos, pois a pressão das bancadas da bala, do boi e da bíblia, faz com que não haja governabilidade, com o intuito único de frear os avanços que tirem as pessoas da vulnerabilidade.
Estes são os primeiros passos. E a arte segue resistindo.