subimos a avenida getúlio vargas e ao adentrarmos a rua barão de melgaço já sentimos na epiderme e na pele da memória os prenúncios da noite. ao atravessar a isaac póvoas o carro deslizou para dentro de uma luz amarelada iodada soturna tingindo a noite de expectativas sonoras pesadas.

ninguém ali estava lutando contra o tempo mas se movendo nos contratempos musicais e pausas temporais. incendiando os silêncios podíamos vislumbrar nuances terrosas – ondas brutais de um som ensandecido. a noite prometia mais que a simples chamada para um show. era incêndio nas veias. humani(mal)dade, grande terceiro mundo, no centro da caverna bar a iluminar passado e futuro. a luz que alumia o negrume do coturno, a beleza tatuada nas costas dos caras e nas caras das minas. a roupa black cabelos arrepiados cabelos brancos carecas e afins. afinal, qual a finalidade de celebrar isso? mileuma respostas não serão capazes de apreender qualquer sentido para nada. mas, fazer a festa do que foi, num encontro de um presente que é outra coisa, capaz de projetar outros futuros. a realidade é que não temos controle sobre nada do que se possa ser. simplesmente somos.

GTW – great third world

do bairro cuiabano para o futuro lendário. isso é para poucos. muitos caem na tenebrosa noite dos esquecimentos. a vida é fatal. a história também, pois escolhe-se de acordo com  interesses e potências do que lembrar, do que comemorar, celebrar qual festa e se refestelar de qual memória?

velhos e novos amigos, vamos nos esbarrando, abraçando, conversando, apertando mãos entre sorrisos e reencontros. caramba, não conseguimos andar mais que meio metro e já encontramos outro e outra e outro e outra pessoa que havia tempo não nos víamos. e outros vindo também na direção do bar agora estamos no bojo – rebojo – do tempo visto na cara uns dos outros, nos detalhes e marcas dos corpos, mas a energia vibrando desmesuradamente como sempre.

a banda vai chegando aos poucos, a primeira formação com capilé charbel, sérgio h., eduardo dezan, e a musa rose pando que marcou sua presença aqui como primeira vocal band leader – cara corpo e voz das evoluções que vivíamos nos anos oitenta, outros olhares outros sentidos outros sentimentos, outra estética outra ética outra paisagem desenhando uma nova cidade para sempre.

é antes e depois disso tudo. não tem jeito.

a segunda formação da banda (marca?) – vai chegando – joe fagundes o cara que provocou esse acontecimento, ora, isso é um acontecimento! jacaré, arenilzo, o podre, rodivaldo, jomar wender as caras dos caras que fizeram essa história toda, com sr infame, zagaia, nidhog – vi o grande sheeba, rubão, caximir andré balbino, wender de novo, anna marimon, corvo veio com bloqueio mental e batman batendo asas atravessa a barão de melgaço e pousa com novos brilhos no olhar. br 364 caximir malevah remorse fantasma andré extremunção lopez e a noite vai desenhando passados e futuros, eliete yuri a grande Mau de Maurília a Valderez – fanzine br364 de filosofias poesias malditas nas bocas e ouvidos dos bares.

a noite desce aos escombros. o som evoca forças descomunais. os fantasmas se divertem pesado. a manhã desconhece as cinzas da madrugada. rastros de um movimento que nunca terminou estão lá impressos no dna da cidade. cuiabá nunca mais foi a mesma.

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