Por Sika*
Já se imaginou em um campo lindo cheio de pessoas felizes e seminuas, cantando as melhores músicas que você já escutou na vida? Ou simplesmente se sentir livre para fazer o que quiser, sem se preocupar com o pré-julgamento da sociedade e das mazelas deste mundão doido? Parece até um sonho, mas para mim foi realidade.
Nestes cinco dias de carnaval tive a oportunidade de ir na 20ª edição do Psicodália. Festival independente que acontece todos os anos na cidade de Rio Negrinho-SC. Com uma line-up que, digamos, PERFEITA, o festival é o que podemos chamar de ‘Woodstock brasileiro’, com direito a banhos de lama, amor livre e liberdade de expressão.
Esta é segunda vez que vou ao festival. E sempre quando me perguntam, costumo dizer que as pessoas não só vão para assistir a shows, beber e se divertir, mas para vivenciar uma experiência única na vida em um evento que é pensado com total sensibilidade, desde o descarte do lixo à comida feita. Mas, principalmente, por ter um público envolvente, que não só curte as apresentações, como também participa ativamente de cada uma delas.
A Chegada
Era sexta-feira à tarde quando chegamos ‘de mala e cuia’ em busca do nosso lugar perfeito no camping. A Fazenda Evaristo (local onde acontece o festival) é dividida em seis campings contemplados pela mata de araucárias e pinhais por todo espaço.
Levantamos o nosso acampamento e colocamos uma bandeira de identificação com o brasão da ‘Confraria da Palpitaria’ (nome do nosso grupo de amigos) com um Cuiabá-MT de complemento. Todos que passavam gritavam nossa cidade. Deu um sentimento de orgulho, até porque estávamos há centenas de quilômetros de distância daqui.
Com as barracas armadas, ficamos também preparados para chuva. Como fica localizado no sul em que conhecemos, é bem comum que chova (muitas vezes forte) durante os dias de carnaval. Mas vocês acham que isso atrapalha em algo? Que nada! Levando o equipamento certo para o acampamento e buscando o espírito do lugar, podemos nos virar muito bem!
O lugar era grandioso, os palcos cobertos, gramados extensos e muita comida e bebida. Por meio do ‘dália’, a moeda local utilizada através de um cartão, podíamos consumir tudo que quisermos. O que pegou mesmo foram as filas que, neste ano, deixaram a desejar. Mas que não ofuscou o brilho do festival.
Apresentações
Se você se sente esquisito por ter gostos diferentes, mas que acha o máximo quando encontra pessoas que se identifique por isso, este é o lugar certo. Confesso que tentei me segurar para não ir este ano por ter ido no ano anterior. Mas após ver a confirmação da dupla Sá & Guarabyra, não me contive.
Além deles, tivemos os mais conhecidos Ney Matogrosso, Céu, Di Melo, Metá Metá, Erasmo Carlos, Liniker, Cabruêra, a argentina Perota Chingó, Casa das Máquinas, entre outros. Também as descobertas maravilhosas como a psicodelia do Ian Ramil, Grand Bazar, Francisco el Hombre (esse eu estava doida para ver), a curitibana Central Sistema de Som com a participação especialíssima de Gerson King Combo e Cátia de França, uma senhorinha paraibana que nos trouxe seu maravilhoso ritmo local.
Esta última em especial, gostaria de destacar a emoção que a mesma sentiu ao apresentar no Psicodália. Ao fim do show, ela começou a chorar de emoção, pois não tinha visto um público tão grande e evolvente em um show dela. Foi arrepiante!
E não poderia deixar de citar as duas bandas, que são presença confirmada há anos no festival. A Confraria da Costa e Bandinha Di Da Dó, grupo pirata e de clowns, respectivamente. Com sons bem peculiares, as músicas de ambas as bandas levam o público à loucura. E em meios aos moshes, empurrões e corpos se embaralhando, tive a coragem de me jogar no público. Foi uma troca de energia sem igual!
Além dos shows
As atividades não paravam e ficava sem fazer nada quem quisesse. Tinha trilha para cachoeira, banho na lagoa (para quem é adepto ao naturalismo, é uma boa pedida!), tirolesa, feirinha, massagem, yoga, apresentações espontâneas, teatro, cinema e, pasmem, recreação para crianças. Sim! Tinha gente de toda idade curtindo esse Woodstock!
O festival é tão agregado, que tem lá suas singularidades. Durante os cinco dias pode-se ouvir vários WAGNEEEER em um ‘eco’ sem fim. A lenda se fez quando um grupo de amigos, nas edições anteriores do evento, começaram a procurar o tal que estava perdido na fazenda. Com o chamamento, todos se motivaram a ajudar o mesmo grupo. Assim, se fez a tradição. E ela é tão forte que, quem foi ao Psicodália, pode gritar o nome onde for para reconhecer quem já embarcou nestes dias de festa. Hilário!
Com tudo isso, acho que o que mais nos divertiu de verdade foi a discotecagem da Rádio Kombi. Seja o ritmo caribenho, funk, brasileiro e até mesmo o balcan (algo como música árabe), a dança era garantida com muitos pulos, trenzinhos, abraços e muito mais.
Mas devo dizer que a noite latina foi a mais marcante. No mesmo dia que o show do Ney Matogrosso, todo mundo estava extasiado (como todos os dias) com as apresentações. Até que, de repente, o tom da música muda. Começa a tocar ‘Sangue Latino’ do Secos e Molhados. Cantamos com toda a força possível, como se não houvesse o amanhã. Mas o que quebrou de verdade foi a música seguinte: ‘Fala’. Literalmente ‘nos abraçamos e choramos muito’. Momento inesquecível.
Adeus
Carnaval intenso em todos os momentos naquela fazenda. Lugar onde você respira arte o tempo todo e pode ser o que é, sem se preocupar com quem está ao lado. Uma sensação maravilhosa de felicidade, dentro de uma energia sem tamanho.
Ter contato com o que há de bom na música brasileira, os movimentos, as novas inspirações e a possibilidade de curtir junto toda essa energia emanada foi sensacional. Confesso que tento me desvencilhar, para curtir outros carnavais, mas é tentador. Sinceramente, mal vejo a hora para as próximas batidas carnavalescas naquele lugar.
Por mais lugares assim, como o ‘Dália’.
*Sika é jornalista, arteira e gosta de passear por aí
Lindo! Já consegui sentir a energia de novo
que belo retorno Sikaaaa, uau!!!!!!! que luxo ein, gostei demais de saber desse lugar!!