Por Sika*
Há poucos dias uma pessoa que passou pela minha vida disse que estava com saudades das nossas conversas, e decidiu puxar assunto. Falamos brevemente sobre as nossas viagens, algumas músicas e a rotina pesada atual. Só. Optei por não prolongar muito o assunto, por resguardo próprio. Embora tenha adorado a ideia dele ter lembrado de mim. Mas, de alguma forma, fiquei um pouco pensativa sobre o âmbito geral da coisa. De tudo que teve começo e um fim, mas que foi infinito dentro daquele tempo.
Curiosamente, ao invés de lembrar das dores, me veio aquelas boas conversas de fato. Das noites e dias longos, eu enrolada nos braços dele debaixo de um cobertor por conta de um tempo frio. Os assuntos eram diversos que caminhavam pelo ponto de vista sobre o mundo e todas as coisas que giram em torno dele, até sobre aquele vídeo bobo que nos fez gargalhar por instantes. Dias bonitos. Dignos de lembranças.
Mas acabou. Sem mais risadas, conversas ou cobertores. Seguimos nossas vidas e tivemos outras experiências, tão boas (ou mais) quanto a que vivemos juntos, mesmo que brevemente. Mas, sim, gostei das ‘saudades’ dele.
Após esta breve conversa, fiz uma pequena avaliação. Os momentos intensos, os apertos sinceros e o adeus com volta. Creio que tudo começou quando aquele moço de barbas grandes, camisa xadrez e meia-lua na mão me chamou para dançar.
Lembro como se fosse hoje, eu meio desengonçada tentando acertar os passos e compassos dessa dança. Estava tocando um samba raiz. “Sabe quem está tocando?”, perguntou. “Originais do Samba”, respondi prontamente. E senti que a partir daquele momento, minha falta de jeito foi perdoada. E tivemos a noite inteira só pra gente. Perfeito, como uma pintura.
Os anos se passaram e muita coisa mudou, inclusive as cidades. Nossas vidas já têm pouco em comum. Como os lugares frequentados, os discos escutados e até as cervejas artesanais que nos embebedavam. Tudo diferente, mas ao mesmo tempo tudo igual. Ainda vejo algo que nos entrelaça de alguma forma, que eu não sei explicar bem o que é. Só sentir.
Apesar de ter mergulhado a fundo neste universo – e ter me fodido muito com isso -, não me arrependo de ter entrado nele. Pois, do que adianta viver e não experimentar as dores e delícias disso tudo? Apaixonar-se profundamente, de um jeito que até dói. Nem que seja por uma noite só. E levar aquela pessoa consigo, dentro de um espaço muito especial no peito. Invertendo a razão e o coração. Sem sofrer, sem doer. E se isso acontecer, tanto faz. Acho que a gente merece ser feliz, seja qual preço tenha que ser pago por isso.
Seja em dias frios, de conversas boas, debaixo de um cobertor, mas que seja pleno dentro deste infinito particular que cultivamos. Pois foi nestes braços onde eu encontrei o meu (nosso) amor. E ele vive. Para sempre.
*Sika é jornalista, artista plástica e gosta de viver intensamente (mesmo que se ferre algumas vezes).