Era uma daquelas tardes escaldantes da Hell City e esperávamos para gravar uma entrevista com os integrantes da banda Boogarins (GO): Benke, Dinho, Raphael e Ynaiã. O calor parecia querer esquentar a lembrança do cuiabano, o baterista Ynaiã que não pisava nessas terras há sete anos. Um pulo na piscina antes de começarmos, um gole na cerveja gelada e tá tudo certo. Falamos de música autoral, cena independente, um pouco de sonhos e muito sobre vida, risadas ecoando no áudio do gravador, e eu revivendo essa conversa louca com eles na trilha sonora das palavras.

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A experiência lisérgica com Boogarins começava ali. Foi uma das entrevistas mais leves e divertidas que as câmeras da TV de Quinta(L) captaram – opinião unânime entre os participantes. Esse encontro do cerrado também foi marcado pelas perguntas da Theo Charbel.

Depois de nos embebedarmos com a energia deles, receber toda a música ao vivo foi quase mágica. As pessoas estavam como que em transe: dançavam, riam e se divertiam ao som de ondas hipnotizantes.

Mas, voltando à entrevista. Pergunto pelo começo e Benke diz que a história dos Boogarins fica mais legal após pouco mais de um ano quando Ynaiã veio ocupar o lugar do antigo baterista. Com a nova formação, a história de um novo começo, explica Dinho. “Eu tô sugando os caras e eles tão me sugando”, fala Ynaiã.

Entre risadas e tiradas, consideram o baterista um dos melhores do país e brincam que ele é quase o Pelé dos shows, deve ter mais de mil apresentações na conta, sem considerar as que realizava em Cuiabá. Ynaiã estava há mais de um ano sem tocar com uma banda após sair do Macaco Bong quando ingressou no Boogarins completando assim 10 anos de estrada. A primeira apresentação juntos foi em outubro de 2014 em São Paulo.

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“É muito doido isso de perceber a música, a coisa da não barreira que existe dentro da música, como você consegue criar relações a partir da música em qualquer lugar do mundo, é bem legal isso, não precisamos falar pra criar uma relação e é a melhor coisa do que fazemos”, disse Ynaiã.

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Sobre as viagens, Benke brinca “a gente está sempre num lugar novo, mas sempre no mesmo lugar que é a van, vida-van”. “Tem três anos que não fazemos outra coisa a não ser viajar e tocar, ter essa troca com o público, vemos uns aos outros mais do que família. Existe muita troca e situação que passamos que só a gente sabe, até das longas viagens não sabemos o que falar direito, parece tanto com rotina, com o normal da nossa vida que fica difícil dizer como é a turnê. Parece que está puxando uma coisa que aconteceu e vai acontecer semana que vem de novo, meio a sensação da estrada, non stop”.

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Já o vocalista Dinho ressalta que a música proporciona estes encontros inusitados. “Estamos sempre com pessoas novas e sempre com as mesmas pessoas porque estamos sempre juntos. Nunca imaginei que ia conhecer tanta gente, dá um nó na cabeça, não seria normal conhecer vocês assim se não fosse por tocar. Começa a dar outra lógica das relações com as pessoas, muda a música, e como você encara as coisas. Todo dia estar aberto a conhecer pessoas”.

Sobre viver da música

Ynaiã conta que tem um tempo que tenta sobreviver da música. “É difícil. Dentro do que fazemos, a linguagem que trabalhamos não é tão popular assim no Brasil e isso torna as coisas um pouco mais difíceis, mas acho que temos conseguido”.

Para Raphael, a banda possui muita sorte de conseguir viver da música. “A gente tem muita sorte na real, ninguém tem outro emprego, está tudo certo para gente, mas é ruim ver um monte de amigo talentoso por aí no Brasil afora e que está dando murro em ponta de faca”.

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Benke ressalta que muitos músicos nem tem pretensão de viver disso. “É difícil para caralho. Tem 12 meses no ano e uns 20 lugares para tocar no Brasil, então você tem que ir inventando”.

“Que tem dificuldade de viver de música tem, mas isso faz você criar alternativa, fazer o que dá pra fazer. É meio que sobreviver de música. É fazer o trem, você gosta de tocar, então você vai fazer música, e acho que é isso que tem acontecido. De uns três anos pra cá tem aparecido muita banda, de novo, tem uma nova onda de bandas começando. Gente conseguindo tocar, fazendo show pequeno, dialogando com 30 pessoas na cidade, mas já é genial porque está fazendo alguma coisa e se tiver isso vai ter brecha pra daqui alguns anos ou agora, o fato de não termos outro emprego e termos sorte é genial, dá lastro pra essas lógicas menores acontecerem e ver quem vai poder fazer isso, é um caça níquel, a gente não sabe como vai rolar”, explicou Dinho.

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Este caminho de criar meios para sobreviver da música também passa pela internet. “A internet faz parte do dia a dia, de tudo o que você faz no seu dia. E essas bandas novas estão querendo tocar para caramba e viver de música, e entende que não pode esperar cair do céu. Tem que formar público, começar por baixo, gastar dinheiro para tocar. Não vai ter a vida mais confortável, pelo menos não de cara, enquanto estiver tentando fazer isso. A informação está muito espalhada, está muito fácil para ter, as pessoas sabem o que tem que fazer. Tem gente que vai ser injustiçada de um jeito ou de outro, mas no geral, acho que hoje todo mundo tem muita independência nisso. A gente tem noção disso, de que é o público que paga ingresso, que vai poder contribuir”, opinou Benke.

Lá de São Paulo, Theo Charbel pediu para perguntarmos se tudo o que os Boogarins fazem no palco é improviso. Eles respondem que todo show é diferente, até que o improviso vira um grande show e o show vira um grande improviso. “O esqueleto está ali”, diz Benke. “Ao invés de esqueleto, eu diria intimidade”, fala Dinho.

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E se o próximo álbum vem com uma pegada mais eletrônica? Eles se complementam nas frases: é a mesma pegada eletrônica do single lançado recentemente “Elogio à instituição do cinismo”, e mais que os discos anteriores. Adiantaram que vão sim tocar o novo single no palco. Theo ainda tira onda e pergunta dos pedais do Benke, a gente dá mais risada, ele fala um pouco dos sete pedais que usa nos shows e todo mundo ri junto.

No final nos surpreendem com um “Passarinho, que som é esse?”

É o som do Boogarins.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

Comentário

  1. Show e meninos maravilhosos! Queria dividir aqui que quando estava levando eles para o show, o Benke colocou para tocar o novo disco deles no carro. Ficamos andando as avenidas de Cuiabá com um som transcendental. Deu para sentir um gosto da música mais encorpada e madura… foi lindo! Todos de parabéns e voltem mais vezes para Cuiabá <3

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