Por Túlio Paniago Vilela*

Como é leve o riso frouxo

Que só é frouxo por falta de motivos

De ser

Ou estar

Estirado neste rosto magro e suado

Que tão poucos motivos

Tem pra sorrir

Este sorriso frouxo

Que desdenha da rigidez

De outros dentes

De outras bocas

Cujos lábios se retraem

As bochechas se enrijecem

Os músculos todos se contorcem

Sublinhando o remorso

Camuflado nestes risos

Parcos

Que evocam câimbras

Sorrisos de engrenagem corroída

Pela ferrugem dos tempos

Que não param

Que não passam

De risos retardados

Submersos pelo pânico

De não sorrir

Quando a ocasião exige

Pobres risos católicos

Cujos dentes careados pela culpa

Pouco sabem senão morder

E apodrecer

Putrefatos pela falta de sentido em viver

A inexistência em vida

E assim – flagelados por si mesmos – não expressam

Tampouco sentem

A leveza revigorante de um

Despretensioso riso frouxo

Estado letárgico

Quando o sentir se abstrai

Do sentido

De ser ou estar

Frouxo

Como a crença na descrença dos deuses

Sobre esta humanidade

Dependente de moral e leis

Cega por abstrações

Onipotentes onipresentes oniscientes

Que podam a capacidade

De sentir

Sem peso de culpa

Ou angústia de morte

Apenas leve

Sem sentido

Como o riso sem motivo

De ser ou estar

Frouxo

 

*Túlio Paniago Vilela é jornalista, escritor, da cidade de Mineiros, e vive em 
Cuiabá desde 2010.

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