São dezesseis e trinta horas do dia 10 de maio de 2017. Dezesseis e e trinta e seis para ser mais exata. Uma turma de alunos passa sem pressa na calçada do outro lado da rua. Conversam animados. Riem, relaxados. Felizes por estarem enfim em liberdade, deixando para trás, por algumas horas o insalubre universo escolar. Insalubre? Será que estou sendo muito dura no meu julgamento? Talvez, mas penso que caso fosse a escola agradável aqueles meninos estariam ainda por lá e não flanando alegremente pela tarde vadia.

Vem-me a ideia de que talvez a professora tenha faltado por estar doente, estressada, atormentada por um cotidiano massacrante. Ou com problemas pessoais como um filho problemático, um marido alcoólatra ou simplesmente por que surtou e decidiu abandonar o magistério. E que, por mais que sua vocação pelo ensino fosse grande, não tinha forças para continuar naquela vida.

Conjecturas, conjecturas.

Volto no tempo em que lecionava na escola pública. Lembro o dia em que, à beira de um ataque de nervos, abandonei sobre a mesa os livros de pesquisa e fugi porta afora com a firme convicção de que ali não era o meu lugar. Imagino que de lá para cá pouca coisa  mudou. A escola continua doente. Produzindo e reproduzindo muita neurose e pouca sapiência.

A saída parece a hora da soltura dos presos que cumpriram sua pena. Jovens que carregam seu penar até que a campainha toque e estejam, enfim, livres para viver.

Eu sei que meu pessimismo exagerado é produto de uma neurose coletiva. Que o ranço que carrego é uma espécie de aversão ao sistema. Que a escola não ensina mais do que a confeitaria. E que, mesmo assim, continuamos nas calhas da roda, a entreter a razão. Então eu penso e como chocolates,  desembrulhando o papel de prata como se ali estivesse a resposta e não encontro nada, só a interrogação constante da minha imaginação. Os alunos, alegres, já vão longe,  descendo a ladeira da preguiça. Não sabem sequer que numa janela qualquer uma dona de casa filosofa  sobre sua existência.

Comentário

  1. este texto, para mim, serve como exemplo de como se deve escrever uma crônica. tá tudo aí dentro, dentro de um timing perfeito. parabéns anna marimon.

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