A não continuidade e muitas vezes a não existência de políticas culturais no Brasil é um projeto de poder, um projeto político. É inegável o potencial transformador da cultura e o seu papel na sociedade. Existe uma distância – praticamente um abismo – que separa a produção cultural das esferas de poder. Sobreviver de arte e cultura em nosso país parece uma utopia perseguida por mentes insanas. É algo assim. Mas essas pessoas que se entregam ao sonho fazem isso por que é aquilo que as move, é o que dá sentido a brevidade que é existir no mundo. É coração, alma, sangue, suor e lágrimas.
Este projeto político tem em seu ponto central o desmonte das estruturas já combalidas da cultura e da educação. É o que vemos, vivemos e sentimos. A extinção do Ministério da Cultura (MinC) como um dos primeiros atos do governo golpista demonstra todo esse descaso. Depois de uma mobilização nacional, voltaram atrás. Mas, promovem o sucateamento do órgão, cortam verba, demitem pessoal, não liberam investimentos. Paralisam. Por isso, é preciso ficarmos atentos quando algo de bom surge em meio a esse lamaçal.
Nesta colcha de retalhos que é a nossa cultura, um projeto nasce entre esses escombros das políticas públicas. E saber que as pessoas continuam a batalhar mesmo com todas as adversidades faz acender aquela fagulha artística. É possível e necessário resistirmos.
Recebemos no QG do Cidadão Cultura, os articuladores do projeto Territórios da Arte, Mariana Pietrobon e Pedro de Andréa Gradella. Incubado pelo Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF) em parceria com a Fundação Nacional da Arte (Funarte), o projeto mapeia a cartografia da arte e da cultura popular nas diversas regiões do país. O pontapé inicial é Cuiabá. O Centro-Oeste. O ponto geodésico da América Latina. O coração da utopia de Wlademir Dias-Pino.
No nosso papo falamos sobre esse sucateamento dos órgãos públicos, e não só na cultura, é o mesmo caso da Fundação Nacional do Índio (Funai). E de como as pessoas não desistem e continuam a lutar, resistir pela arte, através da arte. A mudança começa em nós. E não podemos permitir que sufoquem toda a pluralidade de expressões culturais e artísticas de um país com dimensões continentais.
No Cine Teatro, de 18 a 20 de maio, Cuiabá protagoniza o debate sobre a produção cultural, colaboração, coletivos artísticos, expressões culturais, memória, direitos da cultura, inovação. O Cidadão Cultura participa e contribui com o debate proposto pelo projeto. Eduardo Ferreira representa o nosso coletivo e participa da mesa Inovação: Arte e Tecnologias sociais no sábado (20) às 9h.
Ao final da programação, será produzida uma cartografia cultural em conjunto, bem como um cortejo artístico, pensados a partir dos encontros que irão acontecer. Depois daqui, projeto ainda passa por Florianópolis (SC), Belém (PA), Recife (PE), e Rio de Janeiro (RJ). Em Mato Grosso, acontece com o apoio da Secretaria Estadual de Cultura.
É necessário participar de movimentos e projetos como este, para que as políticas públicas sejam efetivas, para que consigam alcançar e transformar realidades, que tenham continuidade, que produzam experiências na prática, trocas, vivências. É assim que as pessoas, a cultura e a arte se movimentam.
Programação
Dia 18 de maio
9h – Recepção e credenciamento
9:30h – Abertura com representantes da UFF, FUNARTE e Secretaria Estadual de Cultura
10:30h às 12h30 – RELATOS DE EXPERIÊNCIAS COLABORATIVAS EM ARTES
Mediador: Pedro Gradella (UFF), participantes: Duckson Jacques e Rafael Lira (Projeto “O HAITI é aqui”/MT); Maria Theresa Azevedo (Coletivo à Deriva/MT); Representante do Encontro de Artistas “O Levante”/MT
14h às 18h – CARTOGRAFIA CULTURAL: MAPA FALADO DE COLETIVOS ARTÍSTICOS E EXPRESSÕES CULTURAIS Interseções Cuiabá/ Região Centro – Oeste
Politicas para as artes e cultura
Articuladores: Luiz Mendonça/UFF e Pierre Crapez/UFF
Dia 19 de maio
9h às 11h – DIREITOS DA CULTURA
Mediador: Mario Pragmácio (Presidente do Instituto Brasileiro de Direitos Culturais); participantes: Gyl Giffony (Ator, encenador, produtor e pesquisador nas áreas do teatro, organização da cultura e direitos culturais); representante da expressão artística ‘Lambadão’, manifestação cultural de Cuiabá (música e dança)/MT; representante do Coletivo Rota/MT; Marcos Souza (Diretor do Centro de Música/Funarte).
11h às 12h30 – RODA DE CONVERSA – GUARDIÕES DA MEMÓRIA: ACERVOS, COLEÇÕES E TESOUROS VIVOS
Mediador: Mario Pragmácio (Presidente do Instituto Brasileiro de Direitos Culturais); ‘Seu Toti’/MT (Mestre de Congo/MT); Ana Saramago (Coordenadora Cedoc / Funarte – RJ)
14h às 18h – CARTOGRAFIA CULTURAL: MAPA FALADO DE COLETIVOS ARTÍSTICOS E EXPRESSÕES CULTURAIS Interseções Cuiabá/ Região Centro – Oeste
Politicas para as artes e cultura
Articuladores: Luiz Mendonça/UFF e Pierre Crapez/UFF
Dia 20 de maio
9h às 11h – INOVAÇÃO: ARTE E TECNOLOGIAS SOCIAIS Mediador: Leonardo Guelman/UFF ; Ludmila Brandão (Projeto Visual Virtual/MT); Eduardo Ferreira (Portal Cidadão Cultura); Carlos Ferreira (Dramaturgo, ator e ativista da cultura popular/MT)
14h às 17h – CARTOGRAFIA CULTURAL: MAPA FALADO DE COLETIVOS ARTÍSTICOS E EXPRESSÕES CULTURAIS Interseções Cuiabá/ Região Centro – Oeste
Politicas para as artes e cultura
Articuladores: Luiz Mendonça/UFF e Pierre Crapez/UFF
17h – ENCERRAMENTO
18h – CORTEJO ARTÍSTICO E PERFORMATIZAÇÃO DAS PROPOSTAS
Sugestão de atividade em espaço aberto para ação coletiva e cocriativa, com os artistas e coletivos participantes, tal como cortejo, intervenção artística ou performance
Sobre o projeto – O projeto Territórios da Arte visa promover uma discussão das políticas culturais, envolvendo as diversas linguagens e manifestações artísticas e seus realizadores, de forma a produzir e fortalecer os arranjos criativos locais. Através de uma dinâmica de seminários e capacitações de abrangência nacional, a iniciativa vai acontecer nas cinco regiões brasileiras, em cidades cuja contribuição e relação com a produção cultural, a política para as artes e a articulação em rede é representativa.
O primeiro ciclo de debates será realizado de 18 a 20 de maio, das 10h às 18h, no Cine-Teatro Cuiabá, em Cuiabá. No âmbito da região Centro-Oeste, o projeto procura estabelecer articulação com algumas das linguagens e representações artísticas mais pulsantes do cenário cultural e discutir temas como direitos autorais, memória, acervos e tecnologias sociais, a partir das experiências dos artistas e coletivos que estarão presentes.