Ao chegar no Museu de Arte e Cultura Popular, no Centro Cultural da Universidade Federal de Mato Grosso fiquei impactado com a cena que se desenhava naquele instante. Terça-feira, 19h, exposição de arte, grafite no Museu. Um paradoxo maravilhoso colocava meu olhar em seu devido lugar: a arte das ruas ganhou o jogo e conquistou seu lugar no museu. Mas, não será o inverso? O Museu conquista o poder das ruas. Quem se apropria de quem?
Quem come quem? Nesse jogo antropofágico acho que todos saem e entram por suas próprias histórias e janelas. Todos ganham, não há heróis nessa história toda. A história não se faz com heróis. Gente comum tá na ribalta, tá na rua, tá nos salões, tá na luta.
A cena é linda: jovens e mais jovens ocupam o espaço destinado à exposição. Telas brancas esticadas na parede imensa estão ali como molduras à espreita do próximo crime, da próxima arte, da próxima lata de spray a espraiar pelos imensos guetos do Brasil. As favelas ganharam as ruas depois ganharam os museus – na rima no traço no (a)braço.
Sentados ao chão rabiscando textos e desenhos no painel colagem com cartolinas brancas ofertado para criação coletiva denominada de Batalha do Conhecimento. Crianças desenhando, jovens artistas revelando seus potenciais, traços e garatujas, todos construindo uma montanha de conhecimentos, Fora Temer, Obama, desenho incrível de um robô com seis braços-tentáculos, arco-íris, redamar (sugeria reclamar), riscos, sombras, formas. Aquele mural ganha significado na medida em que o tempo avança. Sim, tudo está em processo, em movimento de construção, criação, produção. Segundo Maria Irigaray a exposição se conclui no dia 9 de junho a tarde com uma roda de conversa no Café com Arte. Até lá você pode ir lá dar um confere e até participar.
Quatro telas grandes, com artes de Jean Siqueira, André Gorayeb, Nadja Lammel, Babu78, e colagens de Raquel Mützenberg e Fábio Motta, repousavam nas imensas paredes com suas expressões plásticas de ironia, revolta lúcida, consciência prática de revelar as situações quase como crônicas da realidade, tem algo de art-cartoon nessa arte grafite, de denúncia de antropofagia, de explicitação das tensões mais graves. Cores e formas se mesclam para fazer fumaça, fazer graça, sensibilizar.
Depois veio a rima, Batalha de Rima, frente ao painel/mural do conhecimento de onde os poetas se abastecem de temas, palavras, formas, gestos. O beat na vitrola, MC Pedro comanda a Batalha, de olho no relógio, 40 segundos de improvisação: Big Hero X Doug, os confrontos estão armados, a palavra é carne, a palavra é pão, a palavra é afiada feito lâmina cortando a pele do Museu de Arte: em seguida Smile X Caco, tic tac, a batalha é de poesia versos poesia, poesia da rua, poesia dos meninos das ruas, skate free style a plateia participa e decide o coro dos bacanas o coro dos livres ecoa das ruas. Viva a rua, viva o museu com a rua, tudo junto e misturado. Todos nós ganhamos com isso.