A família rap está crescendo exponencialmente em Cuiabá e Várzea Grande. Na realidade evolui em todo o estado de Mato Grosso. O rap faz parte dos elementos do hip hop, que vêm a ser: o Break que é a representação do corpo através da dança; o MC que representa a consciência, o cérebro; o DJ que é a expressão da alma, essência e raiz; e o Graffiti como a expressão da arte, o meio de comunicação.
Isto é um esquema, que compõe a cultura hip hop, e que é difundida em essência como cultura da paz. Ou seja, que tem como foco a Paz Universal. Através da linguagem clama por mais equilíbrio nas condições de vida dos seres humanos, mais igualdade, mais justiça social, enfim, o rap assimilou a essência da luta política e hoje é a voz das pregações transformadoras, de rebeldia, de contestação. Papel que já foi ocupado por outras formas de arte e que hoje, de forma mais abrangente, o hip hop se movimenta como porta voz dos que contestam de forma direta, com letras cruas do rap produzindo uma poética que busca extravasar a voz interior, da revolta, da reação ao status quo, de forma contundente.
Alex Costak, integrante da Família THC, vem de uma formação em um ambiente preconceituoso, de condições sociais extremas. Nasceu e cresceu na favela, viveu na periferia, do social, do trabalho, da educação, da cultura. O rap, a arte, enfim, serviu como canal para sua expressão e ampliação de sua atuação para novos espaços, para além do bairro, da cidade, do estado. Não há limite para a circulação da expressão musical e poética, o cara voa, acha novos portos e pode viajar pelas paisagens do mundo, conhecer outras realidades, comungar com outras expressões da arte, ampliar seus olhares, suas oportunidades, é possível sim, com a arte, alcançar outros patamares para sua vida.
E o rap surge dessa necessidade de exprimir sua realidade, seus sonhos de paz, seus desejos de ascensão, e isso não é só uma visão materialista, Alex tem consciência do valor da cultura, dos papéis que desempenhamos e desenhamos como prova de nossa existência. Parque do Lago, Várzea Grande, onde a guerra acontece todos os dias, assim como no Mapim, Manga, Cristo Rei, e outros bairros com altos índices de violência, notícias diárias com índices que trazem desalento para muitas vidas, mas a arte e a música são caminhos para superação. Sua realidade dura torna-se matéria-prima para pesquisa, para letras, para a poesia, para enfrentamento, como uma rinha, nocautear a violência, trazer recursos que promovam a paz social, a boa vontade entre nossos pares. A vida pode se tornar bem melhor com arte e poesia. É preciso se armar de amor.
O pai é pedreiro, a mãe arrumadeira, e ele vê no rap sua possibilidade de autonomia, de ter voz na sociedade. É visto agora como um visionário pelos pais, que antes não o aceitavam, tinham preconceito com seu jeito de ser, visual, etc. “Nós que somos da favela vivemos um sistema de escravidão, e isso já vem sendo construído há muito pelo sistema. Eu estava participando de uma batalha, na praça, uma batalha de MCs, fiz meu rap, participei e ao sair dali para ir embora, ao chegar no ponto de ônibus, dois policiais me abordaram e me prenderam, com um microfone e uma caixa de som. Alegaram que eu estava fazendo apologia ao crime, que estava estimulando que se matassem policiais, ou que eu mesmo disse que mataria um policial. Rapaz, ninguém em sã consciência vai afirmar em praça pública que vai matar um policial, isso é um contrassenso, um absurdo!”. Revelação espontânea do Alex Costak entre risos nervosos e surpresas do ouvinte, eu, o interlocutor. A narrativa dele lembrava o absurdo kafkiano, é como acordar em meio a um pesadelo e aquilo persistir além do sonho.
Num momento em que as coisas estão tão conturbadas com a intolerância sobrepondo as relações entre as pessoas e uma afazia política desconcertante, o rap serve como alento para aqueles que não param de lutar por um mundo melhor.
Interessante perceber que a rapaziada hoje produz com muito mais facilidade, as condições de produção e difusão estão muito mais à mão. Família THC lançou recentemente um videoclipe e estão em fase de produção de mais cinco, é isso mesmo, cinco. Diante de minha surpresa e perplexidade, Alex sorri e diz que eles têm a estrutura necessária para isso, além do mais, contam com a brodagem dos parceiros e amigos do rap, como o grupo que vem se destacando com um rap vigoroso, o Conduta do Gueto, também de Várzea Grande, do Mapim. Eles colaboram na captação de imagens e também na edição. Eles trabalham em sistema de colaboração, junto com a Slum Produções também. Outros parceiros como Mattheus Coutinho (MT Beat Dealer), Felipe Peres (Fperes beat) Alfa Beats, Rasta Artur (Lion Dub) de Belo Horizonte, compõem as batidas, os beats, para suas letras e assim vão se auxiliando, se somando para o crescimento desse segmento atuante na cultura local. Na internet encontram tudo o que precisam, inclusive tutoriais que dão o mapa para se produzir, filmar, editar, batidas de todos os ritmos. A Família THC faz uma fusão com o reggae que fica muito interessante. As letras são divididas meio a meio entre os parceiros Alex Rodrigues, o AR – 15, e o Alex Costak, assim eles vão desenvolvendo seu trabalho e amizade que já dura mais de 15 anos.