Era um tronco seco. O sol cicatrizara o corte transversal. A intempérie deixara marcas profundas na superfície ressecada.
A árvore estava morta.
Cortaram a árvore adulta. Na plenitude da vida. Bela. Viçosa. Produzia ar e sombra. Plantada naquele ponto da calçada desde o início dos primeiros brotos. Ali cresceu, frondosa.
As folhas verdes refletindo o sol. Brilhantes de clorofila, abrigando entre seus ramos pássaros e insetos. Vivendo as estações por mais de quarenta anos tinha diante de si o futuro de uma espécie perene. Pois se tratava de árvore longeva. Daquelas que duram uma eternidade.
Mas um dia, surgiram na crosta cinza da casca espessa sinuosos caminhos de cupim desenhando a trajetória fatídica da morte anunciada. Vieram pelo solo, alastrando sua destrutiva e voraz existência de dentro para fora.
A árvore sofreu. Sentiu as forças minarem. foi perdendo o verdor das folhas e a resistência dos galhos. O inseto nocivo destruía com tenacidade o cerne da madeira. A vida se esvaiu aos poucos. Passou a representar um risco para as pessoas e para as árvores vizinhas. Então foi cortada. Uma árvore a menos. uma sombra a menos, fazer o que?
Os pássaros fizeram pouso em outros ramos, a sombra deixou de existir. O sol calcinou o tronco exposto ao exterior. O tempo imprimiu sua marca na madeira seca. O cupinzeiro ao perder sua hospedeira desapareceu. Restou apenas o pó do seu caminho torto.
Cerca de dois anos se passaram desde o ocorrido. Era mês de julho quase agosto. A seca extrema chegando ao auge da estação. A cidade quente, o asfalto ardendo. Ventos incendiários fustigando a superfície ensolarada. O tronco cortado na base ainda ali, vivendo sob a hostilidade do clima. Inacreditavelmente ele brotara, mostrando ao mundo o milagre da vida, na simples folhagem verde que nascia entre as dobras da casca florescida.