Por Gilda Balbino*
A crise na política e na economia não é passageira nem local. Não foi produzida pelo PSDB, pelo PT ou PMDB. A crise é mundial. É a crise da passagem do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro. Se na fase industrial no final do século passado a indústria comandava a vida econômica, hoje são os bancos que, além da economia, comandam a política.
Os mercados mundiais controlados pelos bancos impõem suas decisões de mercados aos bancos centrais, que são cada vez mais autônomos em relação aos governos.
Voltou-se a permitir aos bancos a utilização de depósitos monetários de seus clientes para negócios deles próprios, bancos, inclusive a especulação nos mercados de valores mobiliários, de câmbio ou de mercadorias.
O recuo do crescimento da riqueza mundial, com a desindustrialização crescente é sentida no mercado com o crescimento do desemprego em todo o mundo. E isso ocorre por razões óbvias: enquanto a atividade industrial produz bens, a atividade financeira, por si mesma, não produz nenhuma riqueza concreta de base.
Nossa oligarquia representado pelos potentados econômicos privados e os grandes agentes públicos, associados, sempre detiveram o poder político efetivo em nosso país o que é a principal causa da corrupção que vigora no Brasil no plano estatal. O desinvestimento tanto público quanto privado é um dos piores resultados da entrega total da brasileira ao controle das instituições financeiras nacionais e estrangeiras.
Em 2014 o investimento de empresas estatais foi o menor em 3 anos. Em 2015, com o ajuste fiscal que atingiu o orçamento da União para 2016, o mesmo acabou sofrendo cortes de verbas em 7 programas sociais, especialmente na saúde e educação. O resultado disso é visível. Houveram mais cortes no orçamento de 2017, especialmente nessas áreas fundamentais. Há um caos na saúde e na educação públicas. Cortaram drasticamente nesse ano investimentos fundamentais também na pesquisa, ciência e tecnologia. Perdemos talentos para outros países e pesquisas importantes estão paralisadas. Em compensação não se mexe no volume da dívida pública nem se reduz a taxa Selic.
Precisamos, em nosso país atuar em duas frentes: a política e a econômica para percorrermos um caminho difícil e necessário de mudanças. No campo político precisamos introduzir no ordenamento jurídico, efetivamente, os mecanismos institucionais da democracia direta: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular legislativa, previstos no art. 14 da Constituição Federal como instrumento da soberania popular e que se encontram totalmente bloqueados pelo controle oligárquico.
Precisamos, ainda, acabar com o oligopólio empresarial dos meios de comunicação social, grande imprensa, empresas de rádio e TV, utilizados como instrumentos do poder ideológico capitalista, ainda que a nossa Constituição, em seu art. 220, §5° disponha: “os meios de comunicação social não podem direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”. Até hoje esse artigo não foi regulamentado pelo Congresso Nacional.
Da mesma forma falta a regulação legislativa da norma do art. 221, inciso I da Constituição, segundo a qual “ a produção e a programação das rádios e televisões, atenderão ao princípio de preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”. Isso é indispensável.
No aspecto econômico é fundamental para o enfrentamento da crise, o início do processo de reindustrialização nacional por meio de estímulos fiscais e econômicos e a regulação do endividamento público haja vista, nesse aspecto, o art. 52 da Constituição Federal determinar ser da competência privativa do Senado Federal, a fixação dos limites globais do montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, sempre proposta pelo Presidente da República. Inútil dizer que submetidos à dominação bancária, nossos chefes de Estado tem-se revelado incapazes de atuar nessa área de acordo com os verdadeiros interesses nacionais.
Já o art. 163, inciso III da Constituição determina que compete à Lei Complementar, dispor sobre dívida pública externa e interna, nela incluídas a das Autarquias, Fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público. Essa Lei Complementar até hoje não foi editada. Sem isso, não começaremos a falar em enfrentamento de crise nem construiremos um país que se proponha no futuro a ser realmente humanista.
*Gilda Balbino é advogada e assessora parlamentar, especialista em gerência de cidades pela FAAP.