Por Diego Borges*

 

A cidade estava insuportável, nas calçadas todos dançavam sem música e os carros que paravam pra olhar não se iam embora. O frio tomava conta dos becos e a chuva fina era inevitável. Muito ao longe se via um velho que tentava equilibrar uma garrafa de rum. Uma lentidão exasperante… Só um cachorro que por ali passava, parava e coçava-se com uma profunda tristeza. O ar suburbano que contamina minhas madrugadas já não era o mesmo. Estávamos todos nus, fumando cigarros de palha sentados no capô daquele velho opala 88 a olhar pro mar. E assim éramos todos felizes,  dentro da santa ignorância de ser feliz. A cidade nos deixava no asfalto sem um único gato pingado. E entregues às elucubrações esperávamos ansiosos a chegada da primavera.

 

*Diego Borges é ator, produtor e diretor, gosta de lasanha e viajar. 

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