Por Demétrio Panarotto*

a operação faca no peito
esta semana
que acontece no largo
próximo da sua casa
acaba de sangrar vários manifestantes
que reclamam que nem ao menos a semântica da ação foi respeitada
pois o alvo principal das fardas
foi o bucho dos participantes
bucho este que se espalhava pela praça
transformada num grande matadouro
era bucho pra todo lado
a buchada exposta
parecia de bode
parecia outras coisas também
aliás bucho é bucho e vice-versa
e os animais sangrando
após recolherem limparem os seus órgãos e recolocá-los nos seus respectivos lugares
grudaram as barrigas com fitas faixas ataduras
nestas horas é preciso estômago forte
esta é a principal regra para a sobrevivência quando se vai a uma manifestação
ontem hoje amanhã sempre
preciso repetir
sempre
e mesmo com algumas baixas
os manifestantes seguem firmes
preparam as faixas para a próxima manifestação
– não é o bucho das pessoas espalhado pela praça que vai impedir de continuarmos
[lutando por dignidade
dizia o letreiro no bucho de um dos participantes.

 

demetrio*Demétrio Panarotto nasceu em Chapecó-SC, em 1969. É doutor em literatura, professor universitário, músico e escritor. Publicou, dentre outros, “Mas é isso, um acontecimento” [Editora da Casa, 2008, poemas], “15’39”” [Editora da Casa, Alpendre, 2010, poemas], “Qual Sertão, Euclides da Cunha e Tom Zé” [Lumme Editor, Móbile, 2009, livro/ensaio], “Poema da Maria 3D”[Coleção Formas Breves, e-galáxia, 2015, e-book], “Ares-Condicionados” [Nave Editora, 2015, contos] “A de Antônia” [Miríade, 2016, infantil]. Co-diretor dos documentários “Só Tenho Um Norte” [2008] e “Cerveja” Falada [2010]. Com a banda “Repolho” lançou 4 CD’s entre 1997 e 2009, e o compacto em vinil “Sorria, meu bem! (oh Sweet Lucy)” [2004]. Com o projeto “Irmãos Panarotto”, com Roberto Panarotto, lançou os CD’s “2Violão e 1Balde” [2004] e “Chamando Chuva” [2012]. Vive em Florianópolis-SC.

 

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