Formas, cores, luzes e espelhos criam um universo sensorial e imagético. É como se uma fenda no espaço/tempo fosse aberta e nos tragasse para outra dimensão. Uma dimensão que nos alcança de imediato. O primeiro impacto são com as cores e as formas que se confundem nos quadros, mas revelam padrões matemáticos, a necessidade do cálculo para se chegar a uma perfeição ao infinito.
A escuridão entra no jogo e revela formas. Seria ilusão de ótica? As esculturas estão em movimento? Os espelhos te refletem e você se assusta com o seu pertencimento como obra de arte. É você, o espectador, que é alcançado e transformado pela arte, o principal receptor deste universo sensorial e imagético. Você está imerso. O mergulho neste infinito jogo de sombras aconteceu. Você virou para um lado e todo o seu mundo ficou atrás de si. Agora, é só você e Le Parc. É só você e toda a experiência imersiva, sensorial, imagética que ele criou especialmente para a interação com o público.
“Produzindo nos últimos sessenta anos, Julio Le Parc definiu sua prática artística como uma contínua busca pelo engajamento e empoderamento do público. Impulsionado por um sólido etos utópico, ele continua a encarar a arte como um laboratório social, capaz de produzir situações imprevisíveis e ludicamente evocar a participação do espectador de novas maneiras.
(…) Entre as inovações mais radicais de Le Parc estão as passagens labirínticas infundidas de luz, o uso de transparência para criar espaços desestabilizadores e para desorientar a percepção visual, assim como suas primeiras séries de estudos cromáticos e uso de elementos de jogos nos trabalhos.
Le Parc é uma figura central na história da arte, especialmente a da participação e cinética. Nascido em 1928 em Mendoza, na Argentina, ele passou seus anos de formação em Buenos Aires antes de mudar-se para Paris em 1958. Lá, desenvolveu sua prática em contato próximo com outros artistas latino-americanos e europeus.
(…) Em 1959, a pesquisa de Le Parc evidenciava seu interesse em desestabilizar a percepção visual por meio de arranjos seriais de cores e formas geométricas que ativam a superfície da tela com permutações supostamente ilimitadas. Como membro fundador do coletivo de artistas Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV, 1960-68), Le Parc vêm há muito tempo desafiando a ideia da obra de arte absoluta, estanque, favorecendo a experimentação colaborativa dentro de uma vasta gama de suportes. Ao enfatizar o papel do artista como instigador, Le Parc quer transformar a noção de espectador passivo em participante ativo. Como o artista descreve seu trabalho: “A ideia é despertar a capacidade potencial que as pessoas tem de participar e decidir por si mesmas, e levá-las a entrar em contato com outros para desenvolver uma ação comum”,” explica o texto da curadora Estrellita B. Brodsky.
A exposição fica aberta para visitação até o dia 25 de fevereiro de 2018 no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo. A entrada é gratuita.