Conheci o Tiago pela internet, uma das várias possibilidades de fazer contato com as pessoas na atualidade, principalmente nas trocas de arquivos criativos, no caso, literários. Ele é um colaborador frequente aqui no Cidadão Cultura, espaço que tem nos revelado vários brasis ativos e emergentes. Felizmente existe um lado que aproxima afetivamente e efetivamente. É o lugar em que comungamos o amor pela arte e pelas coisas compartilhadas na busca pelo bem comum. É aí que os encontros acontecem e multiplicam nossa capacidade de expandir as coisas bacanas. Tiago está lançando o livro “Contações” e batemos um papo sobre esse momento tão importante na vida de um escritor, afinal, lançar um livro não é pouca coisa e ao fazê-lo, é papel nosso contribuir para que chegue ao maior número de possíveis leitores.
1- Tiago, o que é o livro “Contações”?
O Contações é um livro que foi gestado a partir da tentativa de entender o tempo. Vivemos uma época em que as tragédias comuns servem de distração no ponto do ônibus, na fila do banco, em uma conversa natural de um casal. O tempo se vestiu de nós e já não percebemos as suas armadilhas ou tentativas do riso sobre nossa pele. O seu movimento nunca vai parar, é um chão no qual sigo neste novo livro. São contos sob a estética de poemas. Por pensar no híbrido como um caminho também indissolúvel, vejo os dias como poemas possíveis: seguir, grafar. Ele traz a cidade da bahia que aportou num espaço infindável de beleza. São pequenas mitologias da vida comum, como bem colocou no texto de orelha do livro o poeta João Filho. Um passeio entre o que foi, o que há e o que se desenha nesta cidade que se espraia num país em crise e dificuldades de crença. O Contações é um convite para a fé. A melhor forma de guardar é contar, assim ele se coloca para gerir a contemporaneidade, cheia de dor e incerteza. Assim ele afirma a literatura como uma ferramenta também política, além de um imenso exercício de compreensão da vida. Seguir, escrever e contar são três lados de uma mesma moeda, Contações.
 
 2- Como fluiu o processo de escrita?
A escrita existe em mim como uma chance para o crescimento como ser humano. É nela que experimento o olhar e a construção do mundo, vai desde as relações pessoais até os obstáculos e tombos que vivo na vida profissional. Estou sempre a escrever algo, esse é o meu segredo para levar os dias. Preciso estar em contato com a reflexão sobre o papel e assim nasceu este livro, num intervalo de leituras. Pois a leitura é a primeira palavra de qualquer livro que possa vir a nascer. A leitura é sempre uma ponte ou um trampolim. É necessário e saudável a prática da leitura, nós que já lemos as pessoas nas ruas, as situações do dia, os silêncios e carnavais, poderíamos perceber que o livro só é a materialização de tudo isso. Ler é preciso. Logo, o Contações surgiu quando comecei a perceber que para entender melhor o agora eu precisava voltar para registrar tudo de um início, mesmo que o que fora perdido fosse refundado. Em determinado momento da escrita deste livro eu já não tinha a certeza do que foi lembrado ou inventado, aliás, agora eu já começo a pensar que tudo deve está acontecendo novamente em algum lugar lá em Manaus, Lisboa, Cajazeiras, Cachoeira, Rocinha ou Flórida. O tempo se veste de nós em muitos lugares.
3-  Fale sobre o tema ou, se for o caso, da multiplicidade de assuntos.
O tema é a vida cotidiana. Vejo as pessoas comuns, a carne, minha carne e lembro de tudo que foi escrito neste livro. O fantástico partindo de uma sereia de um dique que acolhe o fruto da violência, como se essa fosse a nossa única salvação. A fala das comunidades, dos bairros como uma riqueza vital da nossa língua, a língua seguindo o falante pelas ruas e ruelas de uma realidade sofrida empunhando um sorriso, uma piada. Os causos que nos defende de todo silêncio que possa haver no mundo. A crueza do homem pintada numa tela em branco, na noite, no dia. A reverberação da dor sobre sua chance em ser arte. O absurdo, o igual, a força, a desventura, o espaço e o atemporal. O maior tema deste livro é a própria vida.
4 – Como foi o processo de edição?
O processo de edição foi uma sorte. Os meninos da Editora Patuá são muito competentes, objetivos e verdadeiros. Só tenho a agradecer pelo acolhimento e honestidade como tenho sido tratado. A capa é do Leonardo Mathias e o Ricardo Escudeiro junto com o Eduardo Lacerda me orientaram e trataram de todas as outras questões no processo de edição. Depois de ter lançado o “Debaixo do vazio” (Córrego, 2016) colaborei com várias revistas literárias no Brasil, Argentina e Portugal, até que escrevi um outro livro, que tá guardado na gaveta, para em seguida sentir a necessidade de continuar. Daí veio o Contações e estamos aqui. A Editora Patuá acolheu o meu original e depois foi só aguardar o processo de edição iniciar. Vem sendo uma imensa alegria viver este momento. Mas confesso que quando o livro chega no ponto final sou acometido por um vazio imenso que só vai desaparecer quando um novo processo de escrita começa, é bem assim que funciona.
5 – Como será a distribuição?
A distribuição do livro será feita por mim (tolidiasum@gmail.com) e pela editora Patuá. Eles possuem os canais de comercialização do livro, o site da editora e agora o novo cantinho do Patuscada. Vale a pena conferir também o catálogo que sempre tem umas promoções bacanudas, além de concentrar grande parte do que vem sendo feito de bom na literatura brasileira.
6 – Quais são suas expectativas com relação ao livro?
Quero levar esse livro para as escolas, para as praças, para a rua, espero que ele encontre o seu leitor. Vejo nesse livro uma chance para que pensemos na vida que corre exatamente agora como um rio. Que possamos entender o nosso papel e em qual parte estamos neste curso, nas margens ou no cerne. Todo livro é uma chance para um mundo.
7 – Quais ferramentas utilizará para divulgação?
Há um evento criado no Facebook para a divulgação do lançamento, além de alguns outros em que o livro irá circular fisicamente aqui na Bahia (interior e capital), como também alguns lançamentos aqui e um em São Paulo, no espaço da editora, o Patuscada. Acontecerá também a sua promoção a partir dos meios digitais da editora, do meu blog (https://tiagodoliveira.wordpress.com/) e das redes sociais. Também levarei o livro para pequenas apresentações em algumas escolas aqui em Salvador e região, a intenção é que o livro vá até o seu leitor na tentativa de incentivar a leitura.
8- Pode falar da importância da literatura, suas influências ou preferências ?
Falar de literatura é uma alegria, penso que sem ela, principalmente aquela que é feita por pessoas que não a entendem como literatura e sim, por vida, é o mais legal de tudo. Sou um leitor apaixonado por livros, o acabamento, o título, a linguagem, o enredo, tudo me encanta quando é feito de verdade. Leio muita poesia e também prosa, mas confesso que vejo nos poetas uma grande chance de acalmar as minhas rotinas, a minha vontade de gritar, saltar, ou simplesmente calar. Mas ultimamente encontro nos autores de prosa contemporânea uma qualidade incrível que vem me fazendo devorar os livros. Poderia citar muita gente que escreve com uma mão certa, original, como Franklin Carvalho, Itamar Vieira Junior, Evanilton Gonçalves, Maria Valéria Rezende, Leonardo Paiva, Tiago Feijó, Tiago Germano, Carlos Eduardo Pereira, Veronica Stigger, Alê Motta, Maria Fernanada Elias Maglio, Didier Ferreira (que me perdoem os que a memória não alcançou), há um promessa viva em cada um desses nomes, pulsando palavras a cada dia, a cada página virada. Na poesia, além dos grande nomes deste país, como Carlito Azevedo, Alberto Pucheu, Antônio Cícero, Leonardo Froes, Drummond, Ruy Espinheira Filho, Manuel Bandeira , há muitos outros que vêm nascendo nesta era e transformando com seu olhar renovador e cheio, os versos nossos de cada dia, como o querido Marcelo Labes, Casé Lontra Marques, Luciana Brandão Carreira, Daniel da Rocha Leite, Demetrios Galvão, Diego Vinhas, Airton Souza, João Filho, Kátia Borges, Lívia Nathalia, Wesley Correia e tanta gente que lemos e vamos acumulando na sorte de ter encontrado. Acredito muito no tempo agora, esse que é nosso para construirmos outros, penso que é muito importante a leitura dos clássicos, mas acima de tudo, a dos contemporâneos como forma de luz, força e beleza. Sigamos todos juntos numa fé!

 

Tiago D. Oliveira nasceu em 1984, em Salvador-BA, é professor, poeta e escritor. Tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializados. Participou de antologias no Brasil e em Portugal, dentre elas: Contos nos is (Edições Ecopy, 2011, Portugal), Entre o sono e o sonho – tomo I e II ( Chiado Editora, 2013, Portugal), Entre o sono e o sonho (Chiado Editora, 2016, Portugal). Publicou Distraído, poesia (Editora Pinaúna, 2014) e Debaixo do vazio, poesia (Editora Córrego, 2016).

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