O Brasil avança, para trás. Incrível como as coisas além de irem de mal a pior parece que podem piorar e muito. Conquistas importantes que conseguimos desde o início do processo de redemocratização agora retrocedem de uma forma absolutamente irresponsável, como o anunciado sucateamento das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento cultural de nosso povo.
A ideia de fundir o Ministério da Cultura com a pasta da Educação como anunciado é um tiro no coração do país (seria na cabeça?), que vê o desmonte dessas conquistas como uma armadilha a frear os avanços mais significativos de uma parcela da produção nacional que busca aos trancos e barrancos evoluir no quesito talvez mais importante de nossas vidas, que é o da produção cultural do ponto de vista lato. Cultura não é coisa de artista como costumam enxergar os míopes ou desprovidos de um mínimo de compreensão do papel mais que relevante que a cultura desempenha em qualquer sociedade.
As habilidades humanas historicamente tiveram o poder de superar todo e qualquer tipo de adversidade, sejam ambientais, superando condições adversas e se adaptando a ambientes inóspitos; sejam alimentares criando alternativas provando que, literalmente, somos capazes de tirar leite de pedra; sejam de vestuário; de superar imaginações estéreis, pela fome, pela falta, seja o que for, lá está o ser humano edificando novas formas, da necessidade ao entretenimento. Do desejo e da capacidade de criar coisas belas.
Assim caminhamos até hoje. A todo esse modo de fazer, de se adaptar, inventar, criar, podemos chamar de processos de desenvolvimento cognitivo, de produção de cultura. Tudo isso cria base para modos de vida, capazes de superar tormentas e criar coisas, e agasalhar, fazer música, recriar e criar formas, enfim, todo o repertório capaz de tornar a vida mais agradável e consistente. Em que pese a dura mão do poder e da tendência à tirania e usurpação, ou exploração uns dos outros.
Cultura é amplo, tão quanto os fazeres e afazeres que a humanidade vem erigindo ao longo da História. Infelizmente sempre foi relegada, e de caso muito bem pensado, não dá para acreditar em visões ingênuas, mas antes, em visões autoritárias de quem não quer emancipações ou autonomias. Tudo isso é bem pensado, não se iludam. O desmonte das políticas públicas de cultura que contemplou grupos sociais antes relegadas ao ostracismo, inserindo novos componentes e novos agentes populares vide Pontos de Cultura, por exemplo, faz parte da estratégia do poder de desconstruir imagens e ações sólidas – que creio, já avançou muito para voltar atrás, muitas conquistas já foram assimiladas e não se imobilizarão. Mas a diferença de postura já se manifestou desde a transição de Lula para Dilma, que, ao meu modo de ver, errou na condução do Ministério da Cultura. Ali meio que sucatearam muitas das ações.
Mas a galera resiste. As ruas não param de produzir. E é isso que anima.