Por Antonio Torres Montenegro*

 

Não é apenas no Brasil que o passado histórico condenado nos mais diversos fóruns humanitários adentra de forma ameaçadora o presente. As recentes manifestações dos grupos nazistas na Alemanha e dos supremacistas brancos nos EUA são exemplos emblemáticos.

As manifestações de alguns grupos evocando o retorno dos militares na presente greve de caminhoneiros apontam como discursos e práticas ditatoriais pautam pensamentos e comportamentos de alguns segmentos da sociedade. Talvez uma detalhada pesquisa pudesse mapear as razões para vir à tona esse tipo de manifestação política.

Entretanto, é em razão desse cenário que se torna oportuno relembrar algumas práticas comuns ao período em que a sociedade esteve  sob o domínio dos militares, de 1964 a 1985. Afinal, os livros de história e a própria imprensa – apesar de censurada – registram a longa luta da sociedade para o retorno a normalidade democrática.

Assim é significativo refletir como naquele período: primeiro, foram proibidas greves ou manifestações públicas que expressassem descontentamento social e político; segundo, estabeleceu-se uma política de arrocho salarial nos setores público e privado; terceiro, instalou-se um clima de medo em razão das prisões arbitrárias, torturas, mortes e desaparecimento de pessoas, muitas nunca encontradas; quarto, foi incentivada a prática da delação nos ambientes de trabalho, entre vizinhos e até entre amigos; quinto, foi promulgada a censura aos meios de comunicação (rádio, jornal e televisão), um dos pilares do regime democrático, impedindo seu pleno exercício; sexto, os sindicatos eram vigiados e impedidos de atuar livremente, transformando-se em órgãos assistencialistas; sétimo, qualquer pessoa que defendesse ou mostrasse simpatia pela luta por direitos trabalhistas e ou por cidadania era taxada de comunista e passiva de detenção; oitavo, externar uma opinião com críticas ao governo militar era ser antipatriota, comunista e passível de ser preso sem direito a habeas corpus; nono, peças teatrais, músicas, obras literárias eram censuradas e seus autores fichados no DOPS; décimo, qualquer profissional aprovado em concurso público só seria contratado após obter uma folha corrida da Secretaria de Segurança Pública que atestasse não ter participado de qualquer atividade ou externado opinião consideradas ameaçadoras ao regime militar.

Essas são algumas marcas indeléveis – entre muitas outras – deixadas pela ditadura que, sobretudo, os mais jovens não devem desconhecer.

 

* Antonio Torres Montenegro, professor Titular do Departamento de História da UFPE. 
Texto publicado no Jornal do Commercio em 06/06/2018.

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