Crônica de um cata-bostas

Eu sou um cata bostas, isso mesmo, acordo de manhã e a primeira tarefa do dia é recolher as titicas noturnas e matinais de gatos e cachorros. Antigamente, sabia até diferenciar uma bosta da outra, mas com o passar do tempo acho todas iguais, afinal bosta é bosta em qualquer parte do mundo.

O que varia são as cores, dependendo da qualidade do que os animais consomem. Os lugares onde fazem seus admiráveis cocôs também variam conforme as necessidades de cada um. Às vezes na biblioteca, próximo ao computador, às vezes no canto rachado da calçada, ou debaixo do cavalete de pintura para servir de inspiração. Uma bela bosta!

Realmente a rotina de um cata bostas é muito emocionante, já que ali se revela um universo íntimo e orgânico dos animais que nos cercam. Faço a tarefa com resignação filosófica, uma vez que o dia em que não houver mais o que recolher, significa que todos já não mais existem. Que cães e gatos se foram. E o cata bostas, solitário e tristonho, perderá a razão de ser.