Lama.
Soterra, soterra, soterra.
Lama.
Afunda, afunda, afunda.
Lama.
Escava, escava, escava.
Lama.
“Parecia um liquidificador”, conta uma sobrevivente.
Drummond poetizou
O rio é doce
A Vale, amarga.
Lama, lama, lama.
Li-qui-di-fi-ca-dor.
Corpos arrastados.
Até agora, 84 para ser mais exata.
Quase 300 pessoas desaparecidas.
“Dessa vez, o dano humano será maior que o ambiental”, afirma o presidente da empresa.
Trabalhadores, moradores, animais.
O refeitório na trilha da morte.
O azul das águas torna-se vermelho.
Vermelho-sangue, vermelho-lama.
O presidente da república sobrevoa a área
Não pisa os pés na lama
Lama, lama, lama
Afunda, afunda, afunda
Soterra, soterra, soterra
Escava, escava, escava
Mariana, Brumadinho, barragens
Menos indústria da multa
Mais impunidade
Legislações paradas atendem patrões
Populações arrasadas entregam seu chão
A memória esvaziada naufraga na lama
“A cidade que eu cresci não existe mais”, chora outra sobrevivente na TV.
Jornalista narra que não é cenário de guerra
É velório
Talvez nunca encontrem os corpos
Familiares cavam com as próprias mãos
Toneladas de equipamentos de Israel
Tecnologia identifica o calor
Mas os corpos jazem frios
Soterrados
Afundados
Misturados com a lama-vermelho-sangue
A vida escorre
Pelo vale
Da morte
Lama, lama, lama.
tristes trópicos. impactou o texto impactou.