Pela vida das mulheres!

Somos todas Marielle!

Vivas, Livres e sem dívidas nos queremos!

A vida das mulheres está em perigo constante!

Nós mulheres assistimos indignadas ao aumento da violência contra as mulheres (espancamentos, estupros, feminicídios, etc.) e do ataque a direitos (trabalhistas, previdenciários, reprodutivos) que conquistamos com toda uma história de lutas. Pela vida das mulheres, precisamos estar alertas, na resistência e na luta com todas as forças que temos. PELA VIDA DAS MULHERES, NÓS PARAMOS NESTE 8 DE MARÇO, EM UMA GREVE INTERNACIONAL DAS MULHERES!

O ano de 2019 começou trágico para nós. Em menos de 20 dias, o Brasil registrou 107 casos de feminicídios (feminicídio: assassinato de mulheres motivado pelo fato da vítima ser mulher). O país tem a 5ª maior taxa de feminicídio do mundo. As mulheres negras são as mais violentadas, com um crescimento de 54% no registro de mortes no período dos últimos 10 anos. Em casos de mulheres trans, a violência e os assassinatos são assustadores. Tal violência também se intensifica com mulheres lésbicas. Em Mato Grosso, no ano de 2018, ocorreu aumento de 37% nas taxas de feminicídio, somando um aumento de 183,33% em três anos. Por trás desses números cruéis estão mulheres violentadas e assassinadas pelo fato de ser mulher. Hoje, ocorre uma tentativa de camuflar e até negar que essa violência exista, junto a um ataque massivo ao feminismo. Apesar da tentativa hipócrita de negação dos fatos, a realidade está aí para todas nós e as estatísticas provam o que muitas vivenciam diariamente. Negar essa realidade de opressão e violência contra as mulheres leva a todo tipo de retrocessos, impedindo o avanço de políticas públicas e retirando direitos.

Não fossem nossas vidas já tão ameaçadas, preocupa-nos agora a legalização da posse de armas. De acordo com estudo realizado pelo Ministério Público de São Paulo, entre março de 2016 e março de 2017, 66% dos assassinatos de mulheres foram cometidos dentro das próprias casas das vítimas. Metade das mulheres mortas em 2016 foi vítima de armas de fogo. O ódio às mulheres e/ou a possessão sobre seus corpos e vidas tornam muitas casas em espaços das mais cruéis formas de violência, torturas e assassinatos. Ao legalizar a posse de armas desmedidamente, armando o ódio às mulheres, corremos o risco concreto e real de crescimento ainda maior no número de violências e feminicídios. Muitas mulheres são criadas a vida inteira para a obediência e passividade, não vendo possibilidades de reação frente a uma violência armada. As violências física, psicológica, patrimonial etc. terão grandes chances de se transformarem em assassinatos e tragédias. É assim que vemos uma realidade bastante perigosa para nossas vidas: o discurso de ódio tem avançado e a posse de armas significa, nesse contexto, a munição para ser colocada, cada dia mais, em práticas contra as mulheres.

Outra ameaça soma-se a da posse de armas: a brecha criada pelo pacote de leis de Sérgio Moro. Ao mudar a lei que se refere à legítima defesa, o pacote traz uma brecha para proteção de homens que assassinam mulheres, pois atenua penas para assassinos que alegarem “violenta emoção”. Assim, feminicidas (aqueles homens que assassinam mulheres) podem usar esse argumento para redução de suas penas, o que já ocorreu em 2017 no caso do feminicídio da dançarina Ana Carolina Vieira. Acusar a vítima de traição ou provocação, alegar ciúmes doentio, seriam formas de alegar “violenta emoção”. Muitos casos de feminicídios não são concluídos ou os assassinos não são responsabilizados. O machismo prega uma sociedade desigual para homens e mulheres, em que à mulher caberia um papel de submissão e, ao homem, a supremacia social e cultural. Mulheres são violentadas e assassinadas porque a sociedade sustenta uma visão de que seus corpos e vidas são posses, propriedade, dos homens, machismo. Nesse sentido, além de serem violentadas e assassinadas, as mulheres, na maioria dos casos, ainda são culpabilizadas pela violência sofrida. A brecha da “violenta emoção” intensificará também essa culpabilização. Essa brecha seria mais uma pedra no caminho para nós mulheres e mais um passo para a impunidade, e é tudo o que eles querem.

A sociedade precisa assumir que vivemos em uma estrutura machista de opressão e exploração. Precisa assumir que existe violência contra as mulheres, cultura do estupro e feminicídio. A SOCIEDADE PRECISA ASSUMIR QUE O MACHISMO MATA TODO DIA! Enquanto se nega isso, nossas vidas são, ainda mais, violentadas e ceifadas!

Os ataques aos nossos direitos!

Enfrentamos, na realidade atual, acirrados ataques aos nossos direitos. Direitos que foram conquistados com muita luta, de mulheres, feministas, movimentos sociais.

A Emenda Constitucional 95/2016 abriu as portas para todos os retrocessos. A emenda (conhecida como “teto de gastos”) congela por 20 anos os investimentos para setores essenciais à população, precarizando ainda mais serviços já tão precários. O congelamento atinge, principalmente, saúde, educação, assistência social e segurança pública; serviços que afetam diretamente a vida das mulheres, desde a sua saúde e educação para seus filhos até políticas públicas de segurança e assistência social voltadas para si.

A precarização das leis trabalhistas promove a retirada de direitos necessários para as mulheres. No ataque geral aos trabalhadores, nós mulheres somos atingidas diretamente.

A reforma da Previdência, que faz a opção de retirar das trabalhadoras, em vez de cobrar as dívidas de grandes bancos e empresas, aumenta o tempo de trabalho das mulheres e exige que contribuam com taxa maior ainda.

A tentativa de impedir as demarcações das Terras Indígenas e Quilombolas e de trabalhadoras Sem Terra investe diretamente sobre a vida dessas mulheres, que fazem do seu território um espaço de vida, de resgate da sua ancestralidade e cultura. Sem o reconhecimento de suas terras, não há vida plena para as mulheres indígenas, quilombolas e sem terra.

E é preciso lembrar também que recebemos, nos últimos tempos, grande número de mulheres refugiadas. A fragilização do povo refugiado em nosso país recai enormemente sobre a vida das mulheres refugiadas. A ausência de condições dignas para refugiados fere diretamente as mulheres, que, responsáveis por suas crianças, ainda amargam a falta de emprego, moradia, saúde e educação.

A tentativa recente de proibir o uso de anticoncepcionais já tradicionais, como pílula do dia seguinte e DIU, fez vir à tona, mais uma vez, as intenções de grupos conservadores de ter controles maiores sobre nossos corpos. Além de não avançarem na discussão sobre reprodução, ainda buscam retroceder para práticas de tempos medievais (projeto de lei 261/2019, do deputado Marcio Labre).

Buscando silenciar as vozes de mulheres defensoras dos direitos humanos, são cometidos assassinatos cujos responsáveis não são encontrados. No dia 14 de março, completará 1 ano do assassinato de Marielle Franco e de Anderson Silva, e continuamos sem condenação dos seus algozes.

Por todos os lados, nas esferas federal, estadual e municipal, somos alvos dos mais diversos ataques. Ataques promovidos em nome do lucro do capitalismo, do poder do Estado sobre nossas vidas; ataques fortalecidos pelo fascismo em ascensão.

Por essas razões é que nós, mulheres, estamos na luta!

É pela defesa de nossos direitos!

É pela vida das mulheres!

 

Mato Grosso, março de 2019

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