Por Maria Clara*
Quem me conheceu na faculdade sabe que eu piro em rádio. Na semana passada, conheci por dentro o da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Conteúdo antenado, resistente, de primeira. “Jornalismo cultural em tempos digitais” foi a pauta do Fusão[ponto]com.
Sobre a entrevista, deixo pra íntegra. O que me mobiliza a escrever são as ondas sonoras, hoje convertidas em conjuntos de códigos binários. Passei a pensar nessa mágica digital depois d’A Voz da Ocupação.
O boletim informativo da greve estudantil contra a PEC do Fim do Mundo foi um puta instrumento de mobilização e registro do movimento deflagrado na UFMT em 2016. A experiência resultou no meu único artigo acadêmico publicado durante a graduação. O parto de 13 páginas de reflexões teóricas em um prazo de cinco dias não foi, de longe, intenso como escrever e enxugar, enxugar e enxugar, durante longas madrugadas, amadoras laudas de 11 edições.
A greve e ocupação do Instituto de Linguagens (IL) pelos estudantes de jornalismo, radialismo e publicidade, aprovada em assembleia por ampla maioria, foi um posicionamento, àquela altura, radical. Como há tempos não se via. Mas e depois? Como comunicar um episódio histórico em um campus dividido entre ocupa e desocupa? Tomemos a Rádio Corredor!
Com o acúmulo de tarefas de rotina do movimento, a espera pelo fechamento da programação do dia seguinte e pela apuração dos acontecimentos até́ as últimas atividades, a produção das laudas acontecia até altas horas por duas mãos. O áudio gravado editado por uma terceira. O boletim deveria estar pronto antes do raiar do dia para serem distribuídos em grupos de WhatsApp, no YouTube e Facebook, e ecoar nos blocos até às 7h30 da manhã. Disciplina (quase) bolchevique. Vez ou outra um soldado capotava no sofá entregando o corpo aos pernilongos do saguão. O guarda amigo dizia que parecíamos “aqueles jovens dos anos 60”. Provavelmente dos anos 70, 80, 90 e 2000 também.
O rádio, ao menos nos moldes tradicionais, não é minha principal fonte de informação, tampouco parte das minhas experiências profissionais de foca. Não se lê um relato especialista. Mas essa breve, experimental e intensa vivência no movimento estudantil mostrou que as mudanças de formato e transmissão do produto fonográfico apontam caminhos interessantes não só para a música, descoberta da geração passada, mas para o jornalismo em tempos de convergência. O rádio saiu da caixinha e não tem nada de passado: é o futuro!
*Ouça a experiência d’A Voz da Ocupação no link abaixo:
https://www.youtube.com/channel/UCpVEde05uqamLPKYG74Mj_w/videos
Maria Clara é jornalista em Cuiabá, escreve crônicas, poemas & afins