Por Patrícia Alves Santos Oliveira*
Como disse Darcy Ribeiro, se tem algo que não deu errado no Brasil, foi a educação. Pensada pela classe dominante, foi projetada para não funcionar, afinal é bem mais fácil manipular um povo ignorante. Às vezes, é melhor não se dar conta, para não encher o peito de angústia. O sistema capitalista usurpa do trabalhador o direito de pensar, de refletir a própria vida. Condenado a vender a força do trabalho, acredita que se esforçando, se for bem dedicado vai subir de cargo, mal sabe que esse lugar tem dono e sobrenome bem diferente do seu, que ao ser pronunciado ninguém pergunta de qual origem é.
Todos os dias é vencido pelo cansaço, ler se torna uma realidade cada vez mais distante. A rotina da semana é tão desgraçada, que sábado e domingo precisa esquecer a realidade cruel. Uns bebem, outros vão à igreja, há mulheres que faxinam a casa, que cuidam filhos, que visitam um parente no bairro vizinho ou na prisão. Há também aquelas que saem para dançar, que sentam a mesa do bar à espera do tempo passar. Independente do que façam, a vida delas ainda é mais pesada que a deles, homens pobres também são explorados, mas a cultura lhes autoriza chegar em casa, colocar os pés para cima, abrir a cerveja e assistir televisão. Há aqueles que reconhecem que em casa não são hóspedes, a toalha não deixa sobre a cama, a comida também prepara.
Entra dia, finda dia e todos são iguais: levantar, apertar parafusos, comer o que tiver, pois cresceu ouvindo que saco vazio não para em pé. Sabe aquele sexo gostoso? Quase se esqueceu como é, apenas uma rapidinha de vez em quando, porque dormir necessita mais. Sua esperança é que os filhos possam ler, serem reconhecidos. Pensar assim é o que o faz levantar, quando seu desejo é nem ter nascido. Formar um filho é um sonho, dois só pela fé, três é milagre. Será que um dia isso muda e, de fato os últimos serão os primeiros? Essa pergunta o perturba. Em seguida logo pensa: ser o primeiro nem sempre é sinônimo de vantagem, até porque no jogo da vida, o pobre é sempre o primeiro a se ferrar.
Transformado em mercadoria, perdeu o status de humano, é só mais uma peça para fazer a roda das grandes fortunas girar. Tem vontade de saber como é gostar de ler, mas se pergunta, como? Se sua urgência primeira é sobreviver! Quem sabe quando aposentar tenha tempo, disse para si mesmo. Pobre infeliz, por um instante se esqueceu que até esse direito pode deixar de existir, se antes ele era uma certeza, pode ser que realmente só a morte seja. Neste caso, o que resta é acreditar no descanso quando morrer, isso se for para o céu!
Patrícia Alves Santos Oliveira é professora de Língua Inglesa na Rede Estadual de Ensino. Mestranda no Programa de Pós-graduação em Educação pela UFMT campus de Rondonópolis, desde pequena é amante da escrita, acredita que as palavras têm o poder de libertar.