Desde que surgiram acompanho (curiosa que sou) o trabalho (bem eclético) dos irmãos Humberto e Fernando Campana, 67 e 58 anos respectivamente, e desde então seu trabalho/universo representou para mim, um novo significado e uma nova e surpreendente abertura no meu olhar ao perceber/sentir um design original/desafiador, tipo que grita para o mundo, com objetos inimagináveis feitos com os mais diversos elementos como fibras de algodão, plásticos, lascas de madeira, fios de PVC, papelão, cordas, garrafas pet, palha, bichos de pelúcia (materiais baratos e recicláveis), gerando composições híbridas ou não, que se rendem à natureza do nosso Brasil.
Nenhum dos dois tem formação em design. Humberto estudou Direito e Fernando Arquitetura. Se juntaram em 1983 quando Humberto deixou o Direito para se dedicar a fazer pequenos objetos. Humberto quando criança dizia a seu pai que queria ser índio e Fernando dizia que queria ser astronauta. Numa exploração intuitiva/sensorial investigam novas possibilidades na criação dos seus móveis/objetos. Ousados, antagônicos como o chique e o kitsch, o colorido, a funcionalidade, a originalidade, esses elementos se fazem presentes na sua arte carregada de brasilidade e impacto visual.
“Os irmãos Campana foram os primeiros a levar o design para o mundo da arte” diz Ana Lucia Lupinacci (coordenadora do curso de Design da faculdade ESPM de São Paulo), “na verdade, os irmãos Campana são grandes observadores. O que eles fazem é capturar a essência das coisas materiais, como as lembranças da infância no interior, e transformá-las em objetos, sejam eles úteis ou apenas contemplativos.”
Na moda criaram camisas para a Lacoste, sandálias e bolsas para a Melissa. Criam pontes e diálogos, trocas de informações e parcerias com comunidades, fábricas e indústrias. Com peças exibidas no mundo todo e com acervos permanentes em vários museus do mundo como o Georges Pompidou de Paris, o Vitra Design da Alemanha, o Masp de São Paulo e por aí vai, suas produções tornam sua obra tão universal e tão brasileira.
Sobre a exposição intitulada “Fernando and Humberto Campana: Hybridism”, exibida em Nova York (2017) na Galeria Friedman Brenda, disseram: “hibridismo para nós significa se adaptar a momentos difíceis. Aqui vivemos uma crise política sem precedentes. No mundo, a crise de refugiados, o conflito na Coréia do Norte e a calamidade da Venezuela nos deixam em catarse. É sobre isso que a mostra fala: tudo o que nos magoa e nos desanima é representado por meio da arte.”
“Design não é glamour, design é chão de fábrica.” (Irmãos Campana)