Por Larissa Campos
A natureza e seus fenômenos sempre foram uma fonte de questionamentos e inspirações para o ser humano. Quantos textos, poesias e canções falam sobre o sol, o vento, as flores, as árvores, a água e todas as suas formas de manifestação na natureza?
“Segue o seco” é mais que uma música. É uma verdadeira crônica. Quando escuto, lembro Vidas secas, lembro Graciliano Ramos, lembro o retirante Fabiano e sua fiel escudeira, a cachorra Baleia. Assim como a escrita de Graciliano, os versos de “Segue o seco” transportam o ouvinte para o sertão e toda a sua secura.
Quem escuta a música, se sente realmente andando pelo chão rachado, sentindo o calor do agreste e o sol quente no rosto. Mais do que isso, quem escuta a música também sente a fé que ela carrega. Essa fé de quem conversa com a natureza, troca umas palavras com a chuva e pergunta se pode subir aos céus para derramá-la.
Essa chuva é uma metáfora divina. Aliás, o que mais seria a natureza do que uma série de demonstrações dessa divindade (ou dessas divindades) nas quais buscamos um pouco de conforto para viver?
E mesmo quem não acredita em divindade alguma e vê a natureza apenas como um conjunto de fenômenos, não pode deixar de perceber que ela nos dá lições diárias. Ela coloca o ser humano no seu devido lugar, como uma simples parte da cadeia. Ela nos mostra o quão diminutos somos, mesmo quando insistimos em nos achar superiores. Na natureza não somos maiores, nem menores, somos parte e precisamos uns dos outros para continuar aqui.
Com dois acordes, “Segue o seco” fala disso e de muito mais, dependendo da sensibilidade de quem escuta a canção. Aliás, diante de tudo isso, nem acho que se trate de uma canção. Eu diria que é uma prece.