Kaike é um pintinho que passa por um apuro, ao querer ser um pato. As rimas trazem 
um ritmo gostoso e divertido. Nas ilustrações, traços e cores singelos lembram as 
criações dos pequeninos artistas.

Não se engana uma criança por muito tempo. Não se engana muitas crianças pela vida toda. Não se pode oferecer produtos de má qualidade para os pequenos, subestimar sua capacidade de avaliar objetos, sentimentos, emoções. Expressões como “teatrinho” e “livrinho”, muitas vezes fogem ao carinhoso tratamento para refletir ironias desprovidas de sentido, porém, recheadas de discriminação. A verdade interior de cada um brilha ao folhear páginas de um livro interessante, ou ao ouvir histórias, assistir a filmes em que a empatia é cobrada logo no primeiro instante.

Neide Silva é escritora de livros infantis e busca em suas narrativas enfatizar aspectos lúdicos, bem como situações de comunicação em que os pequenos são convidados a participar, com vistas a refletir sobre seu crescimento, as interações sociais, até mesmo a construção estética de beleza interior. “Kaíke” vem se juntar a “Cigamiguinho”, “Sabina, a bailarina” e “Iribi Sabiá”, títulos já publicados pela Carlini & Caniato, e aos inéditos “Elvis e Lola” e “Quinco”. Os livros de Neide Silva povoam a imaginação criadora dos leitores mirins e ganham asas para voos de completude inimagináveis para um adulto qualquer.

O diferencial de “Kaíke” é que as ilustrações também são da autora, que buscou um traço com o qual as crianças se identificassem com mais facilidade. Neide já tem feito com que seus livros circulem por várias escolas em Cuiabá, e nos últimos meses eles têm ido mais longe. Este último, por exemplo, já circula em Brasília, está à venda na cidade de Iguatu (CE), já foi visto no Rio de Janeiro, tem leitores em São Paulo, acerca-se da capital do Rio Grande do Sul, onde mora sua filha mais velha e até mesmo percorre algumas cidades da Noruega, onde reside outra de suas meninas.

Se os contos de fada muitas vezes fazem uso de elementos ligados à construção psíquica das personagens, nos livros de Neide Silva isso não poderia ficar de fora, uma vez que a autora/ilustradora é psicóloga e centra sua escrita nas relações que circundam a criança no ambiente da família, como também escolar, espaços em que a educação confronta-se com o cotidiano repleto de idiossincrasias. Ao final do livro, a título de divulgação do trabalho da autora, lê-se:

Um dos sonhos da autora é que possamos alçar voo na melhoria do aprendizado e desenvolvimento das crianças, na promoção do sujeito. A vulnerabilidade socioeconômica que fez parte de sua infância contribui, hoje, para que ela promova as artes como intervenção sociocultural. Acreditando que a arte dá experiência de leitura/escrita, possibilita prazer na alfabetização e conhecimento de mundo, Neide Silva busca na manifestação da linguagem atiçar o pensamento dos pequenos leitores, contribuindo para o encontro do eu da criança com seus afetos e emoções para que possa se expressar.

Os livros da autora podem ser adquiridos diretamente com a mesma, ou através da editora Carlini & Caniato. Norberto, seu filho caçula, é a inspiração primeira de sua obra. Para mais informações sobre o trabalho desenvolvido pode-se acessar sua página no facebook ou o perfil do instagram. Acredito que ela terá o maior prazer em trocar ideias com pais, educadores e crianças interessadas em conhecer um pouco mais sobre seus personagens. A propósito, Kaíke é irmão do pintinho Kiki, personagem que anda perdido pelas páginas de um livro qualquer, em estado de gestação. A qualquer momento pode aparecer por aqui. Quero dizer, por aí.

 

REFERÊNCIA

SILVA, Neide. Kaike. Cuiabá: Carlini & Caniato, 2019.

 

 

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Ao completar vinte anos da publicação de meu primeiro romance, fecho a trilogia prometida com este volume. Penso que esse tempo foi uma graduação na arte de escrever narrativas mais espaçadas, a que se atribui o nome de romance. Matrinchã do Teles Pires (1998), Flor do Ingá (2014) e Chibiu (2018) fecham esse compromisso. Está em meus planos a escritura de um livro de ensaios em que me debruço sobre a obra de Ana Miranda, de Letícia Wierchowski e Tabajara Ruas; o foco neste trabalho é a produção literária e suas relações com a historiografia oficial. Isso vai levar algum tempo, ou seja, no mínimo uns três ou quatro anos. Vamos fechar então com 2022, antes disso seria improvável. Acabo de lançar Gênero, Número, Graal (poemas), contemplado no II Prêmio Mato Grosso de Literatura.

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