Glauber Lauria*
Diálogo aleatório I
– Quem disse outra voz?
– Tudo em pensamento dista.
– Falam tantas vozes.
– Uma delas grita.
– São vozes díspares.
– São vozes perdidas.
– Melancólica?
– Estapafúrdia.
– Neurótica?
– Suicida.
– Vais ao teatro?
– Nem sempre.
– Deverias.
– Por quê?
– É como a vida.
– Como?!
– Curta.
– Não entendo.
– É como uma dose, de vida.
– Beber mais?
– É a vida em cápsulas.
– Sempre a droga da vida.
– Somos viciados.
– Vivemos em anestesia.
– A vida é um hospital.
– Precisamos de inseticida.
– De transgênicos.
– De química.
– Não falas mais nada?
– Acabaram os ansiolíticos.
– Crise histérica?
– Crise de riso.
– Não crie caso.
– Não faço tipo.
– Alguém morreu?
– Outra parricida.
– Bom pra ela.
– Era convicta.
– Os vivos contabilizam mortes.
– Os vivos são assassinos.
– E os contrabandistas?
– Os políticos?
– Helicópteros com cocaína.
– Presidentes presos.
– Presos políticos.
– Políticos presos.
– Presos com honrarias.
– Quanto tempo temos?
– Há tempo ainda.
– Quanto tempo temos?
– Temos uma vida.
– Isso basta?
– Isso ajuda.
– Isso passa?
– Isso fica.
– A vida?
– Esse crucifixo.
– E cristo?
– Sartre.
– Comunista.
– Dramaturgo.
– Existencialista.
– Negou o Nobel.
– Passou a vida com uma vadia.
– Escritora.
– Feminista.
– Simone.
– Bem vinda.
– Voltas do teatro?
– Vou sempre.
– É uma raça!
– De artistas.
– Quem precisa?
– Eu.
– Minha psicanalista.
– Vais sempre?
– Quase todos os dias.
– Ajuda?
– São como dentistas.
– Cobram caro.
– Os olhos da cara.
– Os dentes da vida.
– Mastigam a alma.
– Gostam de moradores de rua.
– Pedintes.
– Viciados.
– Prostitutas.
– Eu não faço mais.
– Programa?
– Acupuntura.
– Tenho gases.
– Eu, nevralgia.
– Insônia.
– Gastrite.
– Doenças.
– Esquisitices.
Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no mundo. Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, Expresso Araguaia e A Semana.