Por Isabela Bonilha
A história do artista visual Marko Dallabrida começa no município de Guiratinga, Mato Grosso, localizado a 310 quilômetros da capital, e mistura-se com a infância de menino na cidade pequena, tentando “inventar moda” no computador.
Depois do Ensino Médio, Marko cursou arquitetura justamente por, na sua cabeça de menino do interior, ser esse um curso que mais se aproximava do universo criativo em que se sentia à vontade: “Hoje em dia vejo que não tive ninguém que me mostrasse caminhos de formação mais ligados àquilo que eu gostava de fazer, que me mostrasse essa possibilidade. Com a cabeça de hoje, teria feito algo como artes visuais ou cinema”.
Mas a arquitetura mostrou-lhe, por meio da disciplina de História da Arte esse universo que lhe fora negado mais cedo. Sendo assim, Marko se encantou e, a partir daí, começou a se arriscar pelo universo da fotografia até chegar aos seus autorretratos por meio de uma situação inquietante: “Recebi, no trabalho, um buquê de flores enorme, de alguém que eu não queria receber. Fiquei tão constrangido e angustiado que resolvi fazer algo com aquilo: assim, surge meu primeiro autorretrato”.
“Eu ainda nem conhecia a Frida [Kahlo] quando comecei a me autofotografar e fazer essas edições que considero surrealistas. A mim sempre importou esse outro universo, esse algo que só existe em sonho ou nos devaneios”, relembra.
Pergunto a ele se fotografar-se torna o processo criativo mais fácil. Ele responde que não, pois não há quem o dirija, logo, são muitas horas e muitas poses até encontrar o ângulo perfeito. “Por outro lado, fotografar a mim mesmo torna o processo ainda mais íntimo, pois construo todos os elementos só e posso mergulhar nesse processo no meu tempo, do meu jeito”.
Suas obras têm sempre um quê de algo que incomoda, que tira seu interlocutor do lugar-comum. Marko ainda possui fotografias e produções em que não é o rosto-protagonista mas, para ele, “não há como ser artista sem ser autobiográfico”. Desconhece também a arte sem um pingo de tristeza ou agonia.
“Desviante”, sua primeira exposição, realizada no Museu de Arte e Som em Araraquara, trata de algumas dessas angústias: “a tentativa de desviar o olhar para algo que não fosse o eu de garoto sensível, gay e afeminado em uma cidadela do interior”.
Cada detalhe das telas digitais fazem a diferença e nos levam a lugares-nada-comuns que talvez sejam comuns a todos aqueles que portam em si alguma sensibilidade.
O que posso mais dizer sobre Marko? Ele marca.
Isabela Bonilha é professora em Guiratinga, poeta e escritora.