Plec!
O estalido súbito despertou minha atenção.
– “acho que caiu um inseto por aqui,” falei enquanto esquadrinhava o chão com a lanterna.
O cachorro também farejou, farejou mas não encontrou coisa alguma.
Desliguei a lanterna e pensei : -“ah! Não há de ser nada mais que uma impressão.”
Voltei a leitura no celular e de repente: Plec!
A gata Mascarinha brincava com algo que fazia um ruído seco chutando o pequeno objeto com uma pata e outra.
Plec!
Olhei para debaixo da mesa e vi algo que se parecia com um botão de flor de maracujá.
-“Oh! Um botão de flor!”exclamei surpresa.
O cachorro veio farejar, curioso. Chutei de leve para longe, e novamente o barulho : Plec!
Então sob a luz que se projetava da porta da cozinha pude ver um pequeno besouro virado com as patinhas para cima. Peguei com cuidado e coloquei sobre um pires branco.
Era um besouro verde folha brilhante, redondo, perfeito como uma pedra lapidada em uma joia preciosa.
Não entendi de onde teria vindo, talvez da jarra de flores que eu havia acabado de trocar a água.
Flores que colhia nas calçadas, sobre os muros, nos canteiros alheios de vizinhos desconhecidos.
Fiquei cismada.
De onde teria vindo? De qual arbusto, de que moita de flores urbanas selvagens, de qual erva rasteira, de que galho quebrado ou pedra ou musgo ou líquen?
Levei-o para o quintal e o coloquei sobre a terra onde ele deslizou para debaixo das folhas secas entre as heliconias e a espada de São Jorge.
Aqui ele ficará bem, pensei, observando seu movimento no solo úmido arenoso.
Eu não sabia, mas era sim um besouro precioso. Duraria apenas algumas horas o suficiente para encontrar o ambiente propício para se auto procriar na solidão de sua breve existência.
No outro dia ainda procurei por ele no húmus entre as folhas, nas frestas e pedregulhos do canteiro, mas ele havia sumido com sua belíssima carapaça brilhante, desaparecido para sempre na imensidão do meu pequeno jardim.
Amei! A gente começa a ler e não consegue parar.