Fui assistir a apresentação teatral de três espetáculos de encerramento de semestre da MT Escola de Teatro/Unemat, no Cine Teatro Cuiabá, no final de 2019. Antes de qualquer coisa, qualquer observação crítica, análise do objeto, ou generalidades acerca do que vi, devo dizer, e já disse isso várias vezes, que sofro de terrível resistência quanto a assistir espetáculos teatrais.
A primeira contradição que surge em minha afirmativa logo tira de minha cara (com vergonha) as máscaras que representam a dramaturgia com seus opostos da comédia (o riso) e do drama (a gravidade), é que (uma afirmativa não anula a outra, mas é para se pensar), gosto de dirigir, conceber, criar no espaço designado teatro (dentro ou fora do velho palco italiano).
Um problema que vi de imediato, no meu entendimento, é que as soluções da dramaturgia estavam muito ancoradas no texto, e também, todas com soluções musicais, seria uma tendência dos orientadores (?).
É importantes ressaltar que os autores trabalharam com o conceito de Necropolítica, o grande tema proposto previamente. A partir de notícias veiculadas pela imprensa os grupos desenvolveram experimentos teatrais de confrontação a partir da realidade de grupos marginalizados. Utilizando o Teatro como espaço de potência para refletir o mundo de diferentes realidades sociais. Talvez daí o risco de escorregar no excessivamente panfletário. Percebi e senti um certo incômodo com isso.
Ponto para o curso MT em Cena, muito necessária a sua continuidade. O teatro precisa ser muito lapidado para se chegar a uma alta performance. Trabalhar muito os atores, pois é uma das artes mais difíceis. A preparação do ator é tarefa insana. Além de toda a complexidade que é a chamada carpintaria cênica, que envolve figurinos, cenografia, iluminação, sonoplastia e outros afazeres.
Mas acho bacana ousar mais nas montagens, convidar alguns autores diretores dramaturgos com pegada mais contemporânea. O teatro cuiabano e mato-grossense já possui essa dramaturgia mais experimental e ousada, por exemplo, com o precursor nos anos de 1980, Chico Amorim, com o grupo de Risco e a montagem inesquecível de O Capote, de Gogol. Temos a linha inventiva e criativa do Theatro Fúria, com o Péricles Anarcos e a Carolina Argenta, desde antes com Giovani Araújo; Amauri Tangará, Juliana capilé e Tatiana Horovitch, Yandra Firmo, Thereza Helena, as experimentações do In-Próprio Coletivo, as performances de Raquel Mutzemberg, Milena Machado, e muitas outras experimentações que nos conectam a algo mais significativo nessa experiência com a linguagem do teatro. Isso sem ter citado o Teatro do Bando, de Portugal, que passou por aqui com Amauri Tangará, grupo importante da vanguarda europeia; a vivência no Teatro de Odin, na Dinamarca, da Cia Pessoal de Teatro com Horevitch e Ju Capilé; são experiências que romperam e rompem fronteiras, o Grupo Tibanaré que também circulou e vai circular novamente por terras estrangeiras. Já temos um teatro em expansão e que está criando asas.