Raul Fortes
Ontem ao ouvir o cd intitulado ¨Uma festa com Mestre Agnello'” deparei-me, com duas obras desse grande e saudoso Maestro e Mestre José Agnello: o rasqueado ¨Na festa de Maria Murtinho¨ e o samba-choro ¨Haydê¨. Estas duas pérolas do cuiabano nascido em 1881 e que aos dezessete anos regeu a Banda do Oitavo Batalhão de Infantaria a tocar ¨O Guarany¨, foram apresentadas pela primeira vez por sua primeira orquestra denominada Mé Coado, fundada em 1926.
Tudo isso poderia ter sido esquecido entre o sabor de uma ou outra taça de um bom tinto, se não fosse abril, mês da comemoração de aniversário da nossa querida Cuiabá e que no dia 23 de abril, comemora o dia do Choro, que desenvolvido nos finais do século XIX, alçou vôos maiores com Anacleto de Medeiros, Pixinguinha, Aurélio Cavalcanti, Quincas Laranjeira, Irineu de Almeida, Joaquim Callado, considerado o Pai do Choro, dentre outros. Daí me veio ao pensamento a sonoridade do Conjunto Serenata, que tinha em sua formação os saudosos Tote Garcia e Nilson Constantino. Flautas, violinos, violões a produzir maravilhosas melodias nas noites quentes da então capital do velho Mato Grosso.
Entre valsas, maxixes e polcas do velho mundo, com certeza ecoaram nas mão destes mestres musicais, os mais belos choros de sua época. O tempo passa e eis que inspirados por este passado rico de histórias, o professor Pio Toledo e sua esposa Ellen, deixariam para a posteridade uma Obra sem igual: Novos Chorões – Flor do Cerrado.
Nessa obra, mesclou-se jovens aprendizes do choro com os grandes nomes da música em Cuiabá, tais como Mestre Marinho, Joelson Conceição, Marcos Belisário, Billy, dentre outros que agora por força da hora não consegui relembrar. Flor do Cerrado imortalizou melodias de Jonas Silva, Waldir Azevedo, Raul de Barros, Cartola, Villa Lobos e outros consagrados nomes da Música Brasileira. O panorama sonoro do choro em Cuiabá continuaria sendo reverenciado nas noites saudosas do Choros e Serestas do Mestre Marinho, grande violonista 7 cordas e seria mais tarde acrescido de um grupo de choro formado somente por mulheres que, inspiradas por Chiquinha Gonzaga, iriam carregar a bandeira da boa música e dos choros imortais com o nome de Bionne… .
Lá estavam Mônica Campos, Tamara Secotti, Andrea Rosa, Kalinca Nunes e outras amigas e também alunas do Departamento de Artes da UFMT. Aliás, desta importante instituição de ensino, viria a ser fundada a Orquestra Cuiabana de Choro, também com alunos da Licenciatura em Música como, por exemplo; Marcos Levi, Augusto Cesar, entre outros, todos capitaneados pelo Professor Eduardo Fiorucci. Brilhantes em seus arranjos e sonoridades, tiveram suas apresentações gravadas e agora, o Brasil e o mundo podem reverenciar sua história. Cabe aqui também ressaltar que membros da Orquestra Cuiabana de Choro, também pertencem ao quadro do nosso glorioso Corpo Musical da Polícia Militar de Mato Grosso e que fundaram nessa corporação, o Núcleo de Choro da Polícia Militar, idealizado pelo 1º SGT PM Claudiney e com a regência do 1º SGT PM Andrew Moraes. Assim, antes de encerrar estas linhas em memória do choro em terras do cerrrado e do pantanal, me vem à mente a inquietante dúvida: não teria sido o Mestre Agnello, um dos pioneiros do Choro no Brasil? Ouçam suas obras e depois me digam…
Viva Cuiabá!
Salve o Choro!
*Dedicado ao amigo e fiel “chorão” Flair José Carrilho Sobrinho.
*Raul Fortes é músico, cronista, produtor musical, produtor cultural, apresentador de TV e Rádio, entre outros afazeres.