Eduard Traste
antes eu sempre sabia
quando o capiroto me espreitava.
agora vivo na dúvida: é ele
ou a debochada da minha vizinha
outra vez
de tamancos
novos?
dito perdedor
quando você acaba um ano com 39 poemas escritos
você inevitavelmente se pega pensando em Bukowski
e outros poetas dignos
de lembrança.
então por alto você calcula:
Bukowski teria escrito,
FACILMENTE,
uns 1460 POEMAS.
mas você não o viu escrevendo
por isso prefere acreditar que elevaram o sofrimento
e na sua cabeça constam apenas 720 poemas.
nada de 730!
– que PORRA você acha que sabe?
no final das contas o resultado é tão óbvio
que você acaba se masturbando com as fotos da sua mulher
enquanto ela dorme ao seu lado
sem
calcinha.
atenção às perguntas
– o que você faz? você
não trabalha? não estuda?
não toma banho? não se
barbeia? não escova os dentes
todo santo dia?
e peida sempre alto? e
arrota na mesa? e não vai
à igreja? e não acredita em Deus?
e bebe todo dia? e começa sempre
de manhã? e só termina
quando acaba
contigo? – ela não se calava
depois de ver de perto
minhas cuecas
sujas..
“baby,
sou no máximo
um mínimo
poeta, e olhe
lá..”
e quando ela olhou
eu me fui, ainda em tempo
desta vez..
Eduard Traste, coautor do livro estrAbismo (Editora Viseu, 2018), descobriu que não tinha salvação. Desde então vem destilando os necessários pingos de vida para seguir em frente, de seus escritos e outros tragos. Escreve no projeto www.estrAbismo.net, e tem materiais publicados em periódicos diversos, entre estes: Aboio, Alagunas, Arribação, Amaité Poesias & Cia, Escambau, Gazeta de Poesia Inédita, InComunidade, LiteraLivre, Literatura & Fechadura, mallarmargens, Olho Vivo, Pantagruelista, Philos, Ruido Manifesto, Subversa, Via Lateral, Jornal Plástico Bolha e Jornal RelevO.
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