Por Glauber Lauria*
I
Insônia de sono
Samba à dentro
Solo de clarineta
Oboé valsando
Um fagote toca
Em surdina trompete grita
Existem melodias
Clamando por letras
Existem harmonias
Querendo palavra dita
II
Catártica a carta canta
São sempre palavras estanques
Pois quando a palavra gira
Caem paredes, tabus e costumes antigos
Entretemos com verbos o dia
Dado ser ele um desafio
Mas passa o dia
E a palavra fica
Estanque, catártica
Palavra e vida
III
Paira uma palavra que se quer livre
Paira a ausência desta e sua agonia
Paira algo em silêncio que desliza
Esta mesma palavra que dista
Palavra ainda não dita
IV
Nuance de esquina
Evasiva
Pássaros despertam
Palavra singra
Nau gramática
Portuguesa língua
Estala em letras
Esta singeleza
Poesia
*Glauber Lauria nasceu as margens do rio Araguaia em Torixoréu, Mato Grosso, depois bandiou-se com a família para os sertões de Goiás, em Mineiros; lá, aos treze anos, leu Cem anos de solidão e o desastre começou. Aos quinze anos estava em um grupo amador de teatro, aos dezessete viu seus primeiros textos encenados, por essa época tinha o péssimo hábito de declamar Castro Alves, Augusto do Anjos, Cecília Meireles; ler Sartre, Graciliano, Neruda. Residiu em Campo Grande, MS, onde descobriu Goethe, Kafka, Górki; mudou-se para Goiânia, GO, onde encontrou-se com Sófocles, Garcia Lorca, Baudelaire; depois esteve em Cuiabá onde deparou-se com Fitzgerald, Manoel de Barros, Ricardo Guilherme Dicke. Teve várias errâncias pelo interior da região centro-oeste, as vezes assistindo aulas, as vezes dando aulas, as vezes pedindo carona, as vezes vendendo poesia, as vezes fundando jornais, as vezes inquietação mesmo. Morou cinco anos no Rio de Janeiro, onde publicou, editou, declamou, casou, descasou, ficou bêbado e quebrou a perna em três lugares. Atualmente reside em Cuiabá e cursa Dramaturgia na MT Escola de Teatro, UNEMAT. Antes desse já esteve em outros seis cursos superiores. Possui uma renca de poemas publicados por aí e não consegue parar de ler nem de escrever.