Por Yasmin Nobre
O dia é cheio de processos.
Amanheceu.
Levantar.
Escovar os dentes.
Tomar café.
Trabalhar.
Almoçar.
Trabalhar.
Jantar.
Dormir.
O processo massificante da rotina engole nossa subjetividade.
Seriam os processos rotineiros uma armadilha do capital?
Aliás são 22h 30min.
Eu deveria escrever poema? Não, eu deveria produzir algo que girasse o capital.
Filosofia, arte… parece não servir adequadamente a eles.
Não, não se atreva. Me disse o relógio.
Sou seu chefe, não me desobedeça, seu tempo é dinheiro.
Poemas não.
As palavras que movimentam o mundo estão vinculadas a produção do capital.
Mas perceba, são as palavras que movem o mundo.
Até mesmo a felicidade, tornou-se produto dele.
Justo a felicidade, que Aristóteles escreve com tanta veemência que deveria ser um fim em si mesmo.
Ahhhh, o capital, ele que transforma ser humano em mercadoria.
Que sufoca com pressa os arranjos de palavras que não o serve.
Que diz com força e altivez que a economia não deve parar em meio a uma pandemia.
Por que ele teria dó de mim, que quero escrever poesia?
Filosofia, pensamento, problematização, argumento.
Como ter tempo para o ócio em uma sociedade que vende a própria humanidade?
Bom, o relógio está seguindo freneticamente. O tempo poeta, artista, filósofa… não pode se estender. Tic TAC. “O relógio não para de girar”. Tic TAC.
Yasmin Nobre, 25 anos. Mãe, casada. Mestre em filosofia, pós-graduada em educação.
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