Açúcar, alho, arroz integral, peito de frango, sabão em pó, café, manteiga, leite…a lista de compras no bolso, o carrinho deslizando pelo chão brilhante limpo asséptico do pequeno mercado do bairro.
As lembranças voam como borboletas rodeando minha cabeça. Cuidado com os movimentos, cada passo é importante, cada escolha, cada esquina que for virar.
As meninas em casa sempre riam muito de mim, papai tem vergonha de levar listinha de compras! Papai olha a lista se escondendo dos outros no supermercado, dou risadas sob a máscara ao lembrar.
Listar as coisas tem se tornado um hábito em minha vida em meio a tantas e diferentes tarefas no corre corre insano do cotidiano que se avolumou nos últimos anos. São muitos afazeres. O tempo passa, as tecnologias avançam mais rápido do que nossas mentes que vão se adaptando, de forma improvisada, aprendendo os atalhos, desbravando novos caminhos aos conselhos dos amigos nerds, eles sempre dizem que a coisa é auto explicativa, essas ferramentas são auto explicativas, todas contém tutoriais, antigos manuais de instrução, tutoriais, as tecnologias mudam e a língua corre atrás, novas formas de dizer coisas velhas, eu te amo, por i love you, ou amor em mandarin ou grego (poderia consultar o Google, mas me poupo) que nem sei como dizer, novos códigos, novas condutas, condutores artificiais inteligências artificiais, paraísos artificiais, o inferno é aqui e agora, depois é depois, como diria o velho cronos devorador de corpos e migalhas.
Foi-se o tempo da caderneta. Aliás, ainda tenho conta de caderneta no bar do Arcanjo, bar do Erimar, herdeiro do pai português seo Manoel, bairro Boa Esperança, vizinhos de mais de década. Aliás, falando em tecnologias, o Erimar, recentemente, foi favorecido pela tecnologia, vaquinha online para uma cirurgia emergencial, correndo de ser mais uma vítima do sistema público de saúde com suas filas intermináveis. Arrecadou mais que o necessário, doações de antigos fregueses universitários que hoje se espalham pelo Brasil e pelo mundo. Bendito seja! Erimar revolucionou o sistema de atendimento depois que assumiu o bar conveniência. Comida para estudantes, boa e barata, um lanche, uma jantinha. O lugar se tornou referência para universitários. Vive lotado. Erimar é pop. O bar bomba nas redes. Tecnologias podem ajudar, mas o velho churrasquinho ainda queima na brasa, carvão, madeiraaaaaa.
Olho de novo a listinha, me seguro para levar só o que anotei, mas o supermercado é uma praga preparada para você comprar o que não precisa, cores, formas, cheiros, apelos de embalagens delirantes, propaganda o tempo todo na tv, no celular, no desktop, nas ruas, no ar, rádio, internet das coisas, tudo leva a consumir consumir consumir…
Até sumir com a gente
É o que parece.
Tecnologia é bom mas nada substitui a listinha velha de guerra.
Caneta bic, papel sulfite e pé na rua.
