Obras criadas a partir de colagens digitais e suportes artesanais circulam nas redes sociais do projeto, que também chegará ao público em audiovisual
Colagens digitais impressas em suportes artesanais são atração do projeto ‘Das Margens do Pantanal’, contemplado pela Lei Aldir Blanc, através do edital MT Nascentes, da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel). As obras retratam figuras da Cáceres contemporânea e personalidades marginalizadas da história “oficial” do município – mas que, ao mesmo tempo, se fazem presentes no cotidiano e imaginário da cidade.
Ao todo, são 20 artes visuais destacando representantes da cultura popular, figuras que compõem o cenário urbano, educadores, ativistas e artistas que movimentam a cena underground local. A “ocupação artística”, que deverá tomar as ruas para a realização de registros, já está nas redes sociais (no Facebook e Instagram @dasmargensdopantanal). É por elas que as obras “circulam” enquanto a cidade e o estado ainda vivenciam o drama do alto número de contaminações e mortes por covid-19.
Uma circulação física das obras pela cidade também devem chegar ao público através do audiovisual, evitando, assim, contatos e aglomerações. O curta documental mostrará a confecção das obras e molduras até a exposição itinerante pelos cenários da cidade. “Achamos que seria imprescindível ‘virtualizar’ a exposição dessas obras em um momento de conscientização pelo isolamento social. Uma medida tomada em segurança da equipe e do público das margens do Pantanal”, destaca o artista Diego Vicente, proponente do projeto.
‘Das Margens do Pantanal’ tem entre suas inspirações o mestre cururueiro Seu Lourenço, artesão da viola de cocho; a guerrilheira Jane Vanini, que deu a vida na luta contra ditaduras na América Latina; o andarilho-artista conhecido como Johnnie Walker; a comerciante Maria Aparecida e o pipoqueiro Vanderlei Oliveira, trabalhadores da Praça Barão.
Também estão entre os homenageados, jovens que fazem a Cáceres contemporânea, como a poeta Renata Marçala e o ator e dançarino Cadu (em memória) – pessoas queridas na cena LGBTQI+ cacerense -, músico pesquisador Henrique Maluf, que tem como missão espalhar o legado da cultura popular a novas gerações através do rasqueado de fronteira, entre outros.
Arte das margens
Para realizar o projeto foram escalados artistas que têm a “princesinha do Pantanal” como principal fonte de inspiração nas suas expressões em diferentes linguagens: a música, a poesia, as artes visuais e o artesanato. “Das margens do Pantanal” é um projeto que parte do trabalho de Rauni Vilaboas através do @lab_lambe, página de colagens no Instagram. Somam a ele os artistas e artesãos Diego Vicente e Ronaldo Gonçalves.
Para a concepção das obras, eles se dividiram entre a criação das colagens digitais, o entalhe artesanal e a pintura das molduras e cavaletes, suportes produzidos sob medida para o projeto. Os artistas são amigos de longa data e companheiros de composições musicais na banda O Mormaço Severino. Durante suas trajetórias artísticas, se dedicam a reconstruir a cidade através de olhares periféricos.
Com ‘Das margens do Pantanal’, eles pretendem contribuir para reposicionar o olhar de uma cidade histórica, universitária e tradicional, colocando pessoas comuns, em suas mais diversas vivências, ofícios e gerações como figuras centrais de uma obra artística.
“Neste projeto buscamos dar visibilidade às pessoas ‘invisíveis’, as representando a partir de uma estética poética, humana e sensível para não deixar que elas caiam no esquecimento da história. Cáceres é uma cidade antiga e oficialmente lembrada apenas pelas famílias tradicionais, mas o cacerense vai além: ele é o pipoqueiro da praça, a travesti, o músico, a guerrilheira, todas essas pessoas renegadas também são cacerenses”, destaca Rauni Vilasboas.