Camila Cecílio

uma casa vazia Reencontra
sua Essência-espaço quando
não há mais nada
nem o tapete na porta de entrada
nem o pingo da torneira mal fechada
nem o Sussurro de madrugada pra não acordar o cachorro do vizinho

ainda que a tinta branca
lhe recubra o Tom,
uma casa vazia sabe
o que esconde
nas paredes os ruídos os silêncios
as rachaduras e os descascados,
esse punhado de machucado que
Fica depois que alguém Viveu
sob seu teto, sobre seu piso
quanta gente sobra dentro de uma casa
inabitada?

antes o amarelo Abria os braços para o sol e o primeiro feixe a vencer a cortina
inaugurava a Manhã
na casa, todo tipo de luz cabia
a de quem chegava com tanta mala na Saudade,
a de quem cantava um xote lamentado, a de quem empurrava o sofá pra dar mais dois Passos, a de quem Chorava sem saber que no fundo sorria,
a de quem via a vida crescer dentro da barriga

quanta vida vive numa casa depois de vazia?

se as paredes falassem, pouco elas diriam
as Dores e as Alegrias de uma casa
ficam guardadas nos rejuntes,
no Fundo da gaveta do armário,
no relevo das paredes, casquinhas que insistem em se soltar com o passar dos anos
Machucados que hão de desenhar
em seu Corpo-Casa
pontos cardeais, países, constelações
por onde passou todo o povo
que ali viveu

Vazia, uma casa outrora habitada
há de guardar, enquanto edificada,
um lugar pra repousar o Sol

Camila Cecílio é jornalista e escrevedora das coisas de dentro da gente. Cuiabana, vive entre São Paulo e o interior do mato, onde encontra o fôlego e força necessários para continuar em busca de mistérios do viver.

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