Lorenzo Falcão
Uma artista contemporânea que mescla temáticas universais e regionais, criando uma estética original, única, ao combinar técnicas e materiais variados para se expressar. Pode se dizer que Nadja Lammel encontrou e está sabendo utilizar a sua maturidade. O resultado disso é uma produção que evolui à medida que os anos se sucedem.
Nadja inaugura seu novo trabalho, uma instalação artística com três obras – pinturas em tela, seguida pelo lançamento de uma coleção, em parceria com a grife Onng, que vai confeccionar camisetas estampando as obras da mais recente produção da artista. É o projeto “Virtus”, com curadoria de Guilherme Chaves, que será lançado no próximo sábado, na Praça Dom Wunibaldo, em Chapada dos Guimarães. As telas têm 100 por 140 cm e ficam expostas das nove da manhã até as nove da noite. O evento conta com apoio da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Meio Ambiente de Chapada dos Guimarães.
É visível na criação da artista as intenções de dizer algo. Em “Virtus”, como em mostras anteriores de Nadja, há sempre um caráter denunciador de situações, que provocam a reflexão de quem vê o que está diante de si, num contexto que abrange questões humanas, sociais e ambientais. Mas não se trata meramente de uma arte engajada no sentido panfletário. O que a artista quer dizer com suas formas e cores flui de forma natural, espontânea. Informar e entreter o público, não necessariamente nessa ordem, é o que Nadja, sem forçação de barra, tem se mostrado capaz de fazer.
Cabe aqui o registro do que disse o artista francês Marcel Duchamp (1887-1968) em um de seus ensaios: “o ato criador não é executado pelo artista sozinho; o público estabelece o contato entre a obra de arte e o mundo exterior, decifrando e interpretando suas qualidades intrínsecas e, desta forma, acrescenta sua contribuição ao ato criador”.
As três telas que compõem a instalação do projeto “Virtus” trazem como protagonistas o indígena e a onça, seres habitantes ancestrais das matas brasileiras que, nos últimos anos, têm visto o cerco se fechar em torno da própria sobrevivência, devido as ações humanas que prosseguem dizimando seus habitats naturais.
Essas duas figuras sobrepostas sobre contornos de mapas estão nas telas onde predominam o branco, preto e cinza, com detalhes em vermelho. O índio está trajado com cocares, para a guerra, e a onça ostenta a sobriedade do seu porte felino, como animal situado no topo da cadeia alimentar. Os detalhes em vermelho remetem à cor do fruto do guaraná, vegetal originário da Amazônia. Nadja, por sinal, nasceu numa cidade amazônica mato-grossense. Foi introduzida desde criança na cultura dos povos da Amazônia.
O vermelho também está em pequenos detalhes no rosto de uma das onças, na forma de infográficos como sinais que, possivelmente, derivam de uma linguagem ancestral, ou, quem sabe, interplanetária. Resumindo, “Virtus” reúne um trio de telas que contracenam entre si, mas também têm forte impacto visual separadamente. Somado a isso, há uma riqueza de detalhes, cujos significados merecem a exploração do público, já que, “aparentemente o artista funciona como um ser mediúnico que, de um labirinto situado além do tempo e do espaço, procura caminhar até uma clareira” (Marcel Duchamp).
A artista
Nascida em Alta Floresta, município amazônico de Mato Grosso, Nadja Lammel reside em Cuiabá há mais de trinta anos. Ela é neta de imigrantes alemães e graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Cuiabá. Administra sua trajetória profissional entre as artes plásticas e a arquitetura. Impossível não dizer que uma atividade influencia a outra.
Vai do grafitti à pintura tradicional para mostrar a sua leitura imagética deste começo de século XXI, tecendo uma iconografia cheia de significados.
Como arquiteta Já atuou junto à prefeitura de Cuiabá, Secretarias de Cultura (Município e Estado), Ministério da Cultura (Iphan), em cargos de chefia em setores técnicos-culturais. Na arquitetura, mantém escritório atuante em projetos.
Cursou laboratórios de arte no Rio de Janeiro (Museu de Arte Contemporânea Oscar Niemeyer), Curitiba (Museu Oscar Niemeyer), Cuiabá (Palácio da Instrução, ateliê livre da UFMT, Ateliê Adir Sofré e Sesc Arsenal) e Miami (Wynwood, USA).
Nas artes plásticas expõe seus trabalhos em canvas em galerias de arte e museus de Mato Grosso. Suas intervenções urbanas são encontradas em parques da cidade de Cuiabá, avenidas e locais de práticas esportivas urbanas.
Mais informações sobre a artista e a sua obra podem ser conferidas no site https://nadjalammel.com/.