Por Lucas Ninno*

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No último fim de semana Cuiabá recebeu um visitante bastante especial. O pernambucano Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, ou simplesmente Lenine, matou a fome da cidade com um alimento tão importante como o arroz e feijão diário: arte. Tive o privilégio de acompanhar de perto um dos meus maiores ídolos na música brasileira. Alegrias que a fotografia continua a me proporcionar.

Não troquei sequer uma palavra com ele. A idéia era ser a mosca na parede. Simpático e acessível, Lenine parou para conversar com muita gente. Eu é que preferi observar. Já há um tempo tenho desenvolvido esse sistema de trabalho com a minha fotografia. Uma mistura da característica de tímido com um estilo de narrativa que, apesar de mais difícil, quando dá resultados, mata a pau. Não foi meu melhor dia, fotograficamente falando. Errei aqui e ali, perdi alguns momentos e o que levei desse sábado bonito foi outra coisa. Desde que voltei do Chile para Cuiabá, minha terra natal, comecei a me dedicar ao trabalho comercial. Estava precisando de grana, independência, aprender administrar meu eu-empresa e todas essas coisas de gente adulta. É uma fase importantíssima. Viajar para fazer o “Meu amor, América”, por exemplo, me custa dinheiro. Bastante. Faço isso cobrindo palestras, eventos e trabalhos institucionais. Gosto muito, mas…

“Cara alegre é a cara de quem come” 🙂

…mas falta arte. Tenho fome dela, assim como qualquer ser humano com boca, estômago e coração. Cuiabá, a “Capital do Pantanal e do Agronegócio”, como diz um letreiro na entrada da cidade, se orgulha de ser o celeiro do mundo, mas há um bom tempo deixou de produzir esse alimento tão precioso e necessário. E não por falta de quem queira plantar, mas por falta de quem queira regar. Aqui a arte nasce e, ainda broto, seca e morre. Mas de algum tempo pra cá, dentro e fora das instituições públicas, a dança da chuva começou a ser feita. E aos poucos, a Cidade Verde está colhendo estes frutos. Falta muito, falta, mas a vinda de Lenine foi um banquete inesquecível. Carbono é o nome do show. A matéria prima da vida. Foi bonito ouvir nessas terras do cerrado, onde o fogo queima ano após ano e nossa casca grossa resiste, fogo após fogo. Parece que finalmente, começamos a re-brotar. Sabe aquela pequena folha verde que sai do galho carbonizado? Pra mim, ver Lenine aqui foi isso. Agora, quero ver a folha crescer, se fortalecer e ser cascuda o suficiente para aguentar os próximos incêndios. Só assim, lá na frente, é que os frutos virão. Depende da chuva, mas também depende de nós.

“A vida, coisa maior
Que não existe onde não existe água
E que há onde há arte”

(Quede Água — Lenine)

lucas*Lucas Ninno é fotógrafo e atualmente desenvolve o projeto “Meu amor, América”, onde conta histórias de suas andanças pelo continente latino. Em 2014 fundou a agência Alvorada Imagens, em Cuiabá, que realiza trabalhos comerciais e garante o pão de cada dia, além da cerveja do fim de semana. A última viagem, de três meses, correu o sul do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai. Trabalha com uma Nikon D800 e as lentes 28mm f2.8, 50mm f1.4 e 85mm f1.8.

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