*Por Luiz Renato Souza Pinto
Mato Grosso tem dois nomes de destaque no campo literário na atualidade. Dono de prosa bastante prolixa, o nome de Ricardo Guilherme Dicke avança no mercado editorial e começa a ter leitores mais requintados no eixo Rio-São Paulo, graças à penetração de suas obras editadas nos últimos anos. Muitos de seus romances têm angariado leitores célebres que devem se pronunciar criticamente nos próximos anos acerca da qualidade de sua escrita.
Se a prosa tem nomes de peso como o de Ricardo Guilherme e também o de Teresa Albués, na poesia Lucinda Persona vem se firmando desde o lançamento de seu primeiro livro “Por Imenso Gosto”, em 1995, pela Massao Ono Editor, premiado nacionalmente. Os livros seguintes de Lucinda saíram pelo selo Sette Letras, editora do Rio de Janeiro e têm garantido ampla visibilidade no mercado, como também certa penetração na crítica acadêmica. Gosto do conjunto da obra desta bióloga, professora, poeta, artífice da linguagem. Embora não conheça de todo a sua obra, destaco desse conjunto o poema “Buquê de Couve-Flor”, meu favorito. Integrante do livro “Ser Cotidiano”, de 1998, o poema nos diz que
pequena e delicada
que ele e eu (todos os dias)
comemos.
Café da manhã
almoço
jantar
e uma ou outra guloseima.
Aqui
lentamente
(numa concentração bovina)
vamos mastigando
nossa vida diária
sem comentar
o sabor que tem.
Acostumados
fincamos garfo
em buquê de couve-flor
e o entregamos à boca
e o entregamos à sorte.
Cortamos (no prato)
a realidade comum
que
de vez em quando
sangra um pouco.
Minha afeição ao poema se dá pelo que penso dele; e das lições que tiro para repensar as relações humanas, maritais, em torno das cerimônias de bodas, por exemplo. O gosto da rotina tão bem marcado pela poética de Adélia Prado traz para o poema de Lucinda uma referência marcante, em meio à transitoriedade da vida. Não cabe aqui uma análise detalhada da obra, pelo espaço ínfimo, como também pela própria natureza da publicação. Fica apenas a dica para o cidadão/cidadã cultura que nos lê. Em Mato Grosso há o que se ler, além do que se vê nas vitrines das livrarias e da lista de mais vendidos das revistas que vendem mais por trazer notícias requentadas; ou são requentadas porque as notícias são fabricadas? Agora não sei, veja só em que época vivemos, isto é, ah, Deixa pra lá!
*Luis Renato Souza Pinto é poeta, professor, ator performático, pesquisador de literatura, produtor cultural e eternamente Caximir.
que maravilha de texto mano…eu também adoro esse poema da Lucinda(vejo um bife malpassado na ultima facada metaforizando as agruras)