Por Eliete Borges Lopes*
O que é a Mostra CineCaos?
A ideia do CineCaos é a de outro tipo de mostra audiovisual, que não aquela que visa a contemplação clássica, a contemplação que visa o belo. Porque o belo para essa ideia de contemplação é quase sempre aquele ideal de equilíbrio e de asceticismo, de algo limpo, clean.
O CineCaos investe numa outra lógica de produção do audiovisual, de um audiovisual menos comprometido com qualidades técnicas muito formais, é um audiovisual menos pretencioso neste sentido. A Mostra investe nas temáticas pouco atraentes, que não possuem glamour e que não tem muita representação política, no sentido do arrebanhamento do cult, por exemplo, ou do cinema de protagonismo ou histórico, não é filme pra quem quer afirmar e mostrar que tem cultura. É corte seco, um susto pro olho.
Esse cinema trata de burlar essas coisas que não colam com as experiências e de trazer o que é sujo, grotesco, mal acabado e muito colado com a realidade. O cinema brasileiro e o cinema latino tem muito dessa estética, vou citar apenas alguns brasileiros que dão essa dimensão: A febre do Rato, Mundo-Cão, O homem do ano e O matador, e assim vai… Nossa melhor riqueza é a estranheza que causamos, nosso olhar é diferente, não é viciado em Roliúdi. Nosso rock também é assim.
Os cenários, as interpretações, as maquiagens e outros, não escondem a irrealidade e a falta de cuidado técnico, e por vezes são feitos de maneira a revelar o que não deu certo, é um cinema do fracasso, do erro, da inexatidão. Não existe uma harmonia entre dimensão estética e a técnica. Não existe uma razão de ser além de si mesmo, no sentido de que o filme é o que é, e dele não se tiram discussões filosóficas, nem achados de sabedoria, a ideia é desconstruir essas ideias classicamente vendidas como importantes e fundamentais para a vida e dizer: Não! Existem outras coisas que estão na superfície e não possuem tanta “profundidade e sabedoria” assim e que são igualmente importantes por “deseducar” o olhar, promover um olhar mais rude e menos fino e neste sentido é uma grande possibilidade de fazer do cinema uma espécie de retrato nu, da vida como a vida é. Abdicar da estética que tudo torna igual, fugir da mesmice, procurar a estranheza, o bizarro, o absolutamente diferente.
Essas produções subterrâneas do cinema e do audiovisual são um desafio, tanto ao segmento mais formal, já que podem se ressentir da qualidade da produção e do que nos propomos a mostrar, quanto ao público menos “chegado” a essas temáticas, ou diríamos simplesmente menos abertos.
O que desejamos é com um pouco mais de fôlego construir algo coletivo em que o segmento do audiovisual e do cinema de Mato Grosso possa colar com a gente e produzir junto, fazendo oficinas e apresentando o resultado da nossa demência potencializada coletivamente ao final do Mostra CineCaos III, mas isso se sobrevivermos a esse agosto rsrsrsrs.
A ideia é revelar uma produção alternativa em Cuiabá, nem sempre contemplada pelos festivais e que passa longe dos circuitos de exibição comercial, mas que pode esconder preciosidades da crítica social, da irreverência da loucura e da pirataria.
O que: Exibição de filmes sobre o mundo cão e escatologias afins.
Quando: 20/08 – 19h30
Onde: Cineclube Coxiponés
Quanto: Entrada Gratuita!
*Eliete Borges Lopes é professora e artista. Atualmente cursa Doutorado em Educação no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) na Linha de Pesquisa – Movimentos Sociais, Política e Educação Popular. Curadora da Mostra Cine Caos II.
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