Uma onda de saraus assola o país com diversos tons, ritmos e jeitos. De formato europeu, foi bastante praticado no Brasil no século 19.
Segundo o dicionário, sarau é uma “festa nocturna, dentro de casa, onde se dança, executa música e recita”.“Há quem pense que se trata de um galicismo moderno derivado do francês soirée (reunião nocturna), mas não é esse o caso. Embora ambas as palavras tenham raiz no latim serotinus (tardio, pela tarde), a origem reside no galego serao (anoitecer) e no catalão sarau, baile nocturno popular de que já havia registo em 1537.”
No Brasil de hoje tem sarau pra tudo que é tipo de freguês, Sarau da Cooperifa em São Paulo, Sarau das Artes Free (movimento que revitalizou a Praça da Mandioca, point mais frequentado da cena cultural da cidade) em Cuiabá, Sarau Erótico na Vila Madalena em São Paulo (Organizado pela Nossa Casa Confraria de Ideias, o Sarau Erótico reúne interessados em ouvir e declamar poesias eróticas, assistir a filmes e peças teatrais com a mesma temática e ouvir música tocada por DJs ou bandas convidadas.), Sarau do Samba (O Sarau Samba Original – Onde a palavra tem vez, acontece todas as quartas-feiras, a partir das 19h, na Associação Zumaluma Resistência Existência. A entrada é gratuita), Sarau do Blues – Slam Blues que mistura spoken-word (poesia falada) e ritmos da música negra com blues, jazz e hip hop, também em São Paulo e muitos outros espalhados Brasil afora.
Não existe espaço mais democrático que o espaço de um sarau, suas arenas e areninhas improvisadas, seja pelos quintais, pelas praças, casas e ruas, são abertos para a participação das pessoas.
Em Cáceres (MT) também tem a galera do Sarau. Eles começaram há pouco mais de dois anos e de lá para cá foram muitas produções que reuniram artistas e convidados com outra visão do papel da arte e da cultura. A arte que não é de mercado, mas de amor, de convívio, de uma perspectiva da cultura, da formação do lugar, uma construção que passa pelos movimentos da sociedade.
A galera de Cáceres resolveu fazer seu próprio sarau, segundo eles de maneira a preencher os vazios da cidade: “O Movimento Figueira Cultural surgiu sem nome, sem moldes, sem nenhuma pretensão específica, a não ser aglomerar artistas e amantes da arte para fazer o bem”.
A ideia partiu de uma ex-acadêmica de enfermagem da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Karol Melo, que convidou um grupo de pessoas para se unir e fazer intervenções artísticas na cidade. O local, a Figueira, tornou-se um símbolo desde a primeira intervenção do Movimento. A reunião que foi marcada com quatro pessoas acabou atraindo oito e foi dessa reunião que combinaram o primeiro Sarau da Figueira. Os integrantes fundadores do Movimento foram: Karol Melo, Vívea Fernanda Melo da Silva, Paola Duarte, Magnun Paula, Luna Maldonado e Hélio Santana.”
O conceito inicial já deu o tom do que viria a se tornar: “O Sarau da Figueira significa muito mais que uma aglomeração de pessoas bebendo, tocando e dançando. Significa arte viva, não são apresentações pelo ego, mas pelo amor do que está sendo apresentado. Todos podem mostrar sua arte, então, no Sarau da Figueira, você vê todos os tipos e gêneros de pessoas, todas as danças possíveis, sorrisos, tudo espontâneo, desde o mais tímido até o mais extrovertido com um microfone na mão, sem se importar com julgamentos. É mágico.”
Como toda iniciativa cultural nesse país as dificuldades são imensas e a galera que organiza os eventos, principalmente no início não tinha nenhum apoio da Administração da UNEMAT, “apesar de já ser reconhecido por vários segmentos da comunidade cacerense, inclusive a própria UNEMAT, o Movimento até hoje sofre com algumas questões técnicas e financeiras, pois, como não têm objetivos ou fins lucrativos, todos que trabalham para fazer acontecer os eventos são voluntários. Tais questões ainda são bem difíceis, principalmente porque a ideia é fazer os eventos através do cooperativismo, ou seja, tudo ser feito por todos. Sobrevivemos de doações e vendas de bebidas e camisas do próprio Movimento”.
Outra questão importantíssima a ser destacada é que o Movimento se transforma e se modifica a cada novo evento, não existe a figura de um líder, é um movimento criado por voluntários e amantes da causa, no fundo todos querem contribuir para melhorar a própria cidade onde vivem. No sistema cooperativo cada um põe o que tem, coloca a energia e a força de trabalho para realizar os saraus, “antes era algo menos pretensioso tendo como único evento o Sarau da Figueira, hoje temos vários projetos e estamos buscando estender as atividades para outras partes da cidade de Cáceres-MT, aglomerando mais e mais artistas.”
Dentre as atividades realizadas destaque para a “Noite da Resistência Latina” que foi um evento que teve como proposta valorizar a cultura Latina Caribenha e que trouxe como atrações artísticas o grupo Expresso Latino, com participação especial de Guapo, e no encerramento apresentações de trabalhos locais.
“Nós integrantes do Movimento percebemos que Cáceres- MT é uma erupção de talentos, entretanto, nem sempre tais artistas tem o espaço devido, visto que fogem um pouco do padrão da cultura de massa, aliás, até mesmo aqueles que não se viam como artistas, nos eventos transformam-se e tornam-se verdadeiras estrelas. Algumas bandas que devem ser destacadas, pois, abrilhantam sempre os eventos, e são integrantes de tudo isso: Junção Cósmica, O Mormaço e Severino, Macacos do Brejo, nosso querido amigo e parceiro Hélio San, e outros vários que transitam entre a fotografia, a pintura, o artesanato, a dança e todas as formas de expressão artística que somarem.
Os integrantes atuais do Movimento Cultural são: Vívea Fernanda, Luana Duarte, Júlia Jesus, Paulo Mateus, Wellison Rodrigo, Rosângela Vimoshona, Lamartina Daniela, Eliziel Lima, Elânio Domingues, Hélio San, Luana, Abner Miranda e Rauni Vilasboas Valentim.
AGENDA DE EVENTOS:
SARAU DA FIGUEIRA – (03 de setembro, 20h) na Figueira-UNEMAT (Campus Jane Vanini) – Neste sarau serão arrecadados roupas e calçados para o Lar das Servas de Maria (Lar dos Idosos de Cáceres-MT).
SARAU DA PRIMAVERA -(10 de setembro, 14:30h) no Lar das Servas de Maria, apresentação de duas bandas e uma atividade de dança