Por Sissy Cambuim*
Febre. Substantivo feminino que caracteriza a elevação da temperatura do corpo. Também representa o desejo ardente, exacerbado, grande agitação, exaltação. O jogo Pokemon Go chegou ao Brasil há cerca de um mês e foi classificado como uma febre e muito mais: perigoso, bobeira, combate ao sedentarismo, conspiração de agentes secretos, teorias religiosas… de tudo se falou!
Uma das consequências da febre é o delírio. De acordo com o dicionário, delírio é o substantivo masculino que explica uma convicção mantida por uma pessoa com base em conclusões falsas tiradas de dados que não fazem parte da realidade.
Encontramos então, um paradoxo. Foi essa febre que me fez despertar de um delírio. O delírio da “cidade verde” coberta pelos tons terrosos da poeira, do concreto, do asfalto e da correria do dia a dia.
Sim, ainda estamos falando de Pokemon Go!
Foi preciso tirar os olhos da paisagem ao redor e mirar na pequena tela do celular, a cada passada, observando o mundo criado pela realidade virtual, para perceber o que estava em volta. No meu caminho diário, passo por dezenas das chamadas pokestops.
Foi só quando olhei para o pequeno círculo que me dei conta que em um trecho de aproximadamente 10 km, me deparo, diariamente, com todo o tipo de arte. São museus, bibliotecas, praças, esculturas e as mais diversas intervenções artísticas. O cidadão é cultura porque a cidade é cultura.
A “cidade verde” é vermelha, amarela, cinza, azul, roxa, ocre, laranja. Todas as cores estão nas ruas, onde os artistas ficaram esquecidos. Aí vem a máquina, um satélite, um GPS e um computador e fazem saltar aos olhos dos jogadores o que a cidade tem a expressar.
Do teto da capela sistina, com um dos mais famosos afrescos de Michelangelo, “A criação de Adão” é retratada em cores vibrantes sob o calor urbano de Cuiabá. Uma bicicleta, que leva tantos de lá pra cá e de lá pra cá, são os olhos de uma caveira, cujo nariz – um violão – nos faz lembrar que a cidade tem cheiro de música. Homens de arame apontam, em meio ao trânsito, que podemos seguir em várias direções.
Passado e presente se encontram. No estacionamento do Cartório do 5º Ofício, o concreto do muro abre passagem para um quintal de terra, sob a sombra das mangueiras, onde tantas e quantas passaram seus melhores momentos. Na Rodoviária de Cuiabá, um museu – lugar onde o passado não está de passagem – esconde-se atrás de telas vibrantes.
Em outro muro, o concreto dá o tom da palidez ao rosto esquecido em um grafite no bairro Bela Vista, fazendo questionar se a vista ainda é bela. Na avenida do CPA, um anjo em preto e branco expõe seu rosto ao sol escaldante sem nunca ficar corado e abre suas asas em um vermelho vibrante.
Se existem pokemons à solta pela cidade, eu nem me lembro mais. Talvez eles fiquem esquecidos como tantos e tantos artistas que fizeram de Cuiabá a cidade de todas as cores. A cidade tem arte, basta olhar em volta.
*Sissy Cambuim é jornalista
Muito bom o texto, também comecei a reparar muito mais nos pequenos cantos artísticos espalhados pela nossa cidade que sempre foram escondidos de mim. Hoje graças as varias pokestops descobri muitas estátuas, grafites, desenhos e locais interessantes. A cidade já era bonita, quando você olha os detalhes ela fica encantadora
maravilha!!!!! à propósito o violão do nariz da caveira é uma viola de cocho ícone da nossa cultura, adorei seu texto!!!!!