Por Luiz Renato de Souza Pinto*
Sempre gosto quando encontro alunos, ou ex-alunos, em livrarias. Isso me dá um prazer inenarrável, como diria Scarlet Moon. Esta semana fiz uma visita a um sebo, existem poucos em Cuiabá, e fui para comprar livros, o que nem sempre acontece. Sim, pois de vez em quando a gente entra apenas para ver, pesquisar, passar o tempo. Mas em algumas oportunidades já saímos de casa de caso pensado, com a ideia fixa de comprar mesmo.
Estimei o gasto em R$ 100,00, no máximo, e o que fui buscar já me levaria uns R$ 35,00. Escolhe daqui, dali, tira este, fui lendo algumas coisas, emocionando-me com determinadas histórias e coloquei na cesta um que surgiu inusitadamente aos meus olhos e do qual foi impossível me livrar. Até pelo preço convidativo e o momento atual que me cobrou essa reflexão. Cartas do Brasil, do jornalista Ricardo Kotscho. A obra foi publicada em 1992 e traz no conjunto de crônicas publicadas uma reflexão sobre o governo Collor e os desmandos da república dos marajás.
Desta vez, porém, parece que chegamos ao fim de um ciclo da vida brasileira, o da impunidade dos donos do poder. Quem sabe, estamos entrando agora no ciclo de pequenos heróis anônimos, como Norberto Cruxen, que fazem do seu trabalho um prazer, um constante exercício da cidadania (KOTSCHO, 1992, P. 13).
O ciclo continua, e as análises contidas em Cartas do Brasil continuam valendo, sobretudo no que diz respeito à nossa arcaica estrutura partidária, como no fragmento: “ACM é o último grande cacique que ainda não pulou do barco de Collor e o PMDB está na linha de frente dos que já discutem com Itamar Franco e formação de um novo governo pós-impeachment” (p. 150).
Foi com essa conversa que um palhaço virou deputado federal por São Paulo e a coisa piorou muito ainda. Refletindo sobre Brasília durante a gestão colorida, o cronista observa que “Parece que a cidade perdeu o amor-próprio, e as pessoas, simplesmente, entregaram os pontos. Nem no auge da ditadura dos fardados respirava-se um ar tão poluído de safadeza, não se via tanto relaxo por todo canto, tanta falta de esperança” (Idem, p. 51).
É feijoada tão grande que deve ser preparada dentro da piscina, reunindo em volta todos os filhos de dona Leda reconciliados, o esquema PP, Bernardo Cabral e dona Zuleide, Zélia e Chico Anysio e, por que não?, toda a escolinha do professor Raimundo, Magri, com seu bigode novo, indignado com a corrupção, todos eles, enfim (Idem, p. 102).
O Brasil passado a limpo que se promete há tempos continua longe de se ver na prática. O autor do livro projetava que “Quem sabe, daqui a vinte anos, a gente vai poder comemorar a terceira lua-de-mel em Campos do Jordão, sem ter que lutar contra mais nada, mas a favor da vida dos nossos netos, simplesmente” (p. 120).
*Luiz Renato de Souza Pinto é poeta, escritor, professor, pesquisador, botafoguense e caximir até o fim.
hahahahahah…adorei a foto do Collor com a Dilma…