Por Luiz Renato de Souza Pinto*
Larissa Silva Freire convidou-me recentemente para mais uma atividade no espaço Casa Silva Freire para o qual aceitei de imediato. Apenas disse a ela que gostaria de fazer algo que fosse diferente. E pensei em uma performance para a qual utilizaria outras linguagens que não fosse a expressão oralizada. Veio-me à cabeça que poderia deixar um poema escrito pelo chão e utilizaria o corpo, ou parte dele como condutor de sentido. Feito isso pensei em como fazê-lo.
Comecei juntando alguns objetos que tinha em casa e a partir do que o poema sugeria fui compondo o ambiente, primeiro em pensamento, para depois buscar visualizar o conjunto. Isso feito foi hora de colocar em prática. Lembrei-me de uma vez em que, para divulgar um dos shows do Caximir tive a ideia de ficar em cima de uma árvore por cerca de dez horas na entrada da UFMT, aqui em Cuiabá, panfletando. Os amigos iam e viam, traziam água e algo para comer. E o tempo foi passando. Até mesmo meu pai, movido por tamanha curiosidade passou por lá para ver se era verídico mesmo o acontecimento. Foi divertido.
A lição que tirei dessa experiência foi a de que ao prepararmos qualquer tipo de intervenção em caráter experimental, precisamos saber que, como dizem algumas teorias linguísticas, o leitor é um criador de significados. É isso: a dor dos outros necessariamente não dói na gente. Transcrevo abaixo o poema para que cada um tire as suas conclusões…
A corda, o farol…
Enquanto o povo dorme
A horda
Aniquila o patrimônio
Aquele que não pinta, borda!
Acorda, o arrebol…
A luz que lança brilho à sombra
Espanta o trigo que germina
E amarela a terra
Grão por grão…
Acorda, o sol
Esquenta o frio que encolhe a alma
E o monstro subterrâneo
Que o caldo entorna
Fome de mim
Acorda, Gogol…
Que o realismo se fantasmagore
E o laço firme da concórdia se materialize
Que a catarse imaginária do momento
Transforme o hipotético tormento
Acorda, o farol…
Que arrasta o machado contra a foice
E abençoa dos cavalos mais um coice
O relógio imaginário, derretimento longitudinal da cordilheira
Última centelha
foi-se…
A corda
O farol…
*Luiz Renato de Souza Pinto, professoratorperformáticopoetaescritorbotafoguense
parece cena de filme com gene wilder….marty fieldman, richard pryor e o bella fazendo papel de woody allen!!!!
O tempo é sempre relativo quando se trata de poesia, professor.
” Que arrasta o machado contra a foice
E abençoa dos cavalos mais um coice
O relógio imaginário, derretimento longitudinal da cordilheira
Última centelha
foi-se… ” ( a poesia aqui se fez )