Se há mais de 40 anos atrás “Westworld – Onde ninguém tem alma” foi o primeiro filme a ter imagens manipuladas em computador, a nova série da HBO inspirada no longa de 1973 utiliza da tecnologia avançada do século XXI para recriar o parque temático do diretor Michael Crichton.
Já imaginou como seria viver no Velho Oeste dos Estados Unidos de 1880? Um mundo com muita violência, sexo e aventura. O objetivo proposto pela experiência é descobrir quem você realmente é. No filme que se tornou um clássico, está toda a estrutura que compõe a série de Jonathan Nolan e Lisa Joy.
Um parque temático criado para férias inesquecíveis, robôs tão perfeitamente humanos que é difícil distinguir quem é de verdade e quem é máquina. A diferença? Os robôs morrem e os humanos são protegidos pelas Leis da Robótica, que impedem as máquinas de ferirem seres vivos.
“Hoje em dia tudo é digital, mas nem sempre foi assim. Em 1973, fiz um filme chamado Westworld, que era uma fantasia sobre robôs. O filme requeria que mostrássemos o ponto de vista de um robô, interpretado por Yul Brynner. Mas qual técnica de efeito especial melhor sugeriria o ponto de vista de uma máquina? Eu propus uma solução simples: para mostrar o ponto de vista de uma máquina, use uma máquina. Eu queria filmar as cenas e depois manipulá-las com um computador”, explica Crichton em seu site.
O diretor conta que este processo nunca havia sido usado em filmes e que nenhuma casa de efeitos especiais sabia do que ele estava falando, sequer possuíam computadores. Naquela época, os efeitos especiais dos filmes limitavam-se ao processo puramente fotográfico, como a solarização (insolação de uma película ou papel sensível durante a revelação ou copiagem, com o objetivo de obter efeitos especiais – esta foi a técnica utilizada para as paisagens do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço).
Visionário, o diretor chegou até o Laboratório de Propulsão de Jato de Pasadena, mas o processo levaria nove meses ao custo de $200 mil dólares. Com um orçamento apertado de $1 milhão de dólares e prazo de apenas 30 dias para gravar, Crichton encontrou uma solução mais barata para os poucos segundos de filme que seriam manipulados em um computador.
Crichton rechaça ser chamado de um diretor de ficção científica, ele insiste que seu filme é uma fantasia sobre os robôs. Como mesmo disse Jonathan Nolan em uma entrevista sobre a série, o diretor criou um universo, que vai muito além de um parque temático, assim como sua outra criação, o Jurassic Park.
“Eu crio pequenas histórias sobre como tive as ideias, mas na maior parte do tempo eu realmente não sei. Eu acho que tive a ideia de Westworld porque sempre me interessei muito pelos astronautas. Eu era fascinado pelo fato de que são treinados para serem máquinas. E também estava fascinado pelas figuras animadas na Disney. Essas duas tendências de transformar as pessoas para se parecerem o mais próximo possível das máquinas e das máquinas se parecerem o mais próximo possível com os humanos cria uma confusão. Essa tendência de fazer concessões para que as máquinas possam crescer. É inevitável que acomodemos nós mesmos às máquinas, pois precisamos delas para dar um suporte a nossa existência”, disse Crichton.
E então este universo fantástico criado em 1973 com muita criatividade, afinal, o filme não esbanja efeitos especiais, são poucos minutos de imagens processadas em computador, promete ser destrinchado na série com todos os recursos que tem direito.
No clássico, os robôs começam a desobedecer as leis da robótica e um cowboy passa a perseguir dois visitantes que haviam atirado nele anteriormente (os robôs são consertados após luta ou morte). Na série, de cara somos arrebatados pelas histórias dos androids, que vivem todos os dias em um ciclo narrativo e são assassinados, estuprados e violentados pelos humanos.
“Crichton escreveu um roteiro e o dirigiu. Não existe um livro. O que você sente no filme é que existe este mundo enorme e que mal dá tempo de se explorar. É de tirar o ar. Westworld vai de uma ideia para outra, até que em um ponto, ele faz referência ao porque dos robôs estarem se comportando mal. Ele descreve o conceito de um vírus de computador. Quando estavam filmando o filme, no mesmo ano ou um ano depois é que apareceu o primeiro vírus de computador. É por isso que Crichton é tão brilhante. Ele sabia muito sobre tecnologias que estavam para nascer e passou muito tempo pensando sobre como funcionavam. Considere o fato de que o filme original foi escrito antes da existência do primeiro videogame”, observou Nolan.
Com muitos segredos a serem desvendados durante a série, o que já se pode sentir nos episódios é que a trama fica cada vez mais densa. A inteligência artificial continua a evoluir e os robôs já dão indícios de uma memória, uma consciência. Um labirinto para a liberdade, quando não se conhece a verdade sobre a realidade em que se vive e é preciso dar voltas em torno de si.
Westworld promete revelar este universo que une o bang-bang ao futuro cada vez mais próximo da inteligência artificial, em que os visitantes buscam pela experiência autêntica, real, não querem o virtual. Querem experimentar, vivenciar todas as sensações: a violência, a morte, o desejo, em uma busca incessante das emoções prometidas no parque, sem qualquer consequência para a vida humana.
“O incrível deste projeto é poder olhar para o passado e para o futuro ao mesmo tempo. Eu acho que a mistura destes dois mundos é o que é especialmente excitante, especialmente agora que sinto que estamos em uma espécie de precipício onde estamos na fronteira entre tempos, entre eras, e você sente que algo novo está chegando. Você não sabe exatamente o que é, mas você sente que está no horizonte”, concluiu Lisa Joy sobre a série.
maravilha de texto. o filme é realmente antecipatório, mas tem um quê delicioso de ingenuidade que cativa, isso com os olhos de hoje.