Algo em mim cede, com a eminente fra(n)queza do mundo. Sinto um ruído constante, um chiado que toca todo o corpo até chegar aquilo que chamam de ânima, a tal da alma.
Minha letra é torta, assim como meus pés e passos. Devaneio, delírio. Às vezes chego a esquecer a prisão em que vivo. Posso tentar gritar, mas meu som é mudo. E ninguém me ouve.
Sou só pó e reticências. Penso que seria bom voltar ao que era, quem eu fui um dia, sem trazer comigo as dores, de só ter um vestígio do que me acompanha hoje. Perco a vontade do mundo, por que tudo que quero é encontrar a sinceridade, as verdades que nos fazem grandes.
A fumaça voltou, mas não é mais como antes. A consciência desperta.
É a hora de nadar. Nadar contra a correnteza, subir as águas do rio que descem sinuosas.
Lembro de perguntarem à Frida Kahlo se ela sofria por amar Diego Riviera. Ao que ela respondeu: “Não perguntam às margens de um rio, se sofrem por deixá-lo correr”.
Eu preciso de mim. Resgatar aquele velho pedaço que se descolou. Pescar as luzes na beira do abismo, como Pablo Neruda. Mas nunca pular. Não faria. Preciso ser.
Só o que é real são essas folhas, esse delírio, devaneio. Ainda tenho tantos passos a dar. O caminho é longo. Meu percurso caleja meus pés cansados.
Sem guarda-chuva é fina a garoa que molha meu caminho.
Isso aqui não é nada e nunca será.
Um tiro no peito. Quando vamos começar a correr? Meu diário de solidão. Meu redemoinho.
Lava essa calçada, lágrimas lavam minha cara ensanguentada. Perco letras, palavras, perco a mim mesma.
É impossível voltar à imensidão.
Como posso ser se não sou nada? Como posso estar se não estou em lugar algum?
Não quero falsas memórias, quero entender o mistério envolto das chamas incandescentes. A vela queima até o fim. Sou só pó e reticências.