Por Glauber Lauria*

quando as escadas dançarem nuas

e os acordes soarem nervos

 

quando estalarem de gozos os corpos

e se fizerem benfazejos os segredos

 

quando misteriosos os dias saltarem cosmos

e caírem as noites consteladas de desejo

 

quando o álcool fizer sangrar os poros

e abismar em mar os medos

não partas, que partir é ter sido

e tecido, rasgado ou partido

despe o corpo, o expõe despido

 

mas se hás de nu partir

então sede bem-vindo

irás andar comigo

tanta palavra

assim paira

obscura e abstrata

nada revela

além nada

que circunda

bela e plácida

mesma palavra

circunscrita

a esta

grafia mesma

que palavra

não significa

nada

poesia:

como rosa náufraga:

estrela feita d’água:

carne que desabrocha:

suspiro, mordida, pancada

crava carne estaca

finca corpo alabarda

desce pele faca

risca derme navalha

foice tronco atravessa

lâmina órgão singra

estilete sangue pinga

bisturi cirurgia anestesia

Nossa Senhora do Drama Constelado

padroeira dos trágicos

guardiã dos amantes

herdeira dos apaixonados

irmã daqueles que em crise crime desespero flertam!

Dái- aos ulcerados da carne

o gosto precoce do suicídio

o amor invertebrado dos atentados

a falência múltipla dos sentidos!

semiadormecido em sonho erótico

sedas cetins negros e carmins

confundem-se por entre véus azuis

nuas sibilam odaliscas

e um orientalismo à Voltaire

filosofa sobre divãs

sentenças de Ovídio

citadas por Messalina

são por Lucrécia descritas

com cínico anacronismo

Villon recito

elas sorriem

outros regurgitam

Sade se faz conviva

seus discípulos açoitam-se rindo

taças retinem brindes

Vênus e Eros são recebidos

com guirlandas dançam ninfas

faunos se eriçam enrubescidos

Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no Rio de Janeiro. 
Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, 
já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros 
e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, 
Expresso Araguaia e A Semana.

Comentário

  1. A poesia de Glauber Lauria enriquece a qualquer publicação voltada a este gênero. Não tenho dúvida de que seus versos estão entre os melhores da poesia mato-grossense. Felicito a este portal pela oportunidade de publicar Glauber e outros textos que tanto enriquece nossa cultura.
    Wanderley Wasconcelos

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