Surpreendente, surreal, instigante, dramático e questionador. Isso é o mínimo que tenho a dizer sobre Héctor Zamora, em cartaz no CCBB  de São Paulo até  09 de janeiro de 2017. Intitulada “Dinâmica não linear” a mostra traz ao público a essência desse artista contemporâneo, que transita num universo em constante desconstrução, sem fronteiras. O vasto mundo é seu grande território de experimentação. As intervenções urbanas marcam a trajetória poética de uma linguagem que usa artifícios para simular situações inusitadas, como a invasão de dirigíveis no céu de Veneza sobre a praça San Marcos.

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A primeira vez que me deparei com uma intervenção desse artista, levei um susto com o impacto dos vasos de plantas arremessados pelas janelas do antigo hospital Matarazzo. “ O abuso da história” era a resposta para nossos sentidos soterrados pelos escombros da memória. Aquele momento em que nos indagamos: – ”o que acontece?”  – nada, é apenas um pedaço do mundo que ruiu… uma parte de nós outros que se despedaça em mil cacos e ali jaz.

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Os vídeos apresentados nessa mostra nos fazem mergulhar num oceano de sensações. “Marretadas no mar”, performance em que trabalhadores destroem embarcações pesqueiras no Palais de Tokyo, em Paris, provoca um sentimento intenso, do drama da destruição ruidosa, da atitude feroz, implacável, com que aqueles homens fortes arrebentam os cascos dos barcos, até que reste apenas as carcaças inertes e o silencio que se segue, pesado e denso. O silencio que precede a morte, o silencio dos que não tem voz.

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As performances parecem ter sempre a presença de um ato destrutivo, de ações cuja ruptura tem o caráter irremediável das tragédias humanas. Não é preciso dizer nada. O silencio do após diz tudo o que não foi dito. Como na abertura da mostra em que uma centena de livros negros foram rasgados no átrio do CCBB.  Os fragmentos das folhas flutuaram no ar e uniram-se ao chão numa chuva de páginas rasgadas, o som produzido era como um temporal desabando no espaço escuro das nossas emoções.

Poderia dizer mais, mas por aqui vou ficando, com a lembrança das gaivotas de concreto, flutuando com extrema leveza, perfiladas, geométricas, coesas, navegando no ar rumo ao oceano encapelado, batido pelos ventos que fazem tremular brancas bandeiras da paz num apelo à poesia, que apesar dos pesares nunca nos abandonará.

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